quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Um pouquinho de Jorge Luís Borges

Jorge Luís Borges (24 Agosto 1899 – 14 Junho 1986)

"Não criei personagens. Tudo o que escrevo é autobiográfico. Porém, não expresso minhas emoções directamente, mas por meio de fábulas e símbolos. Nunca fiz confissões. Mas cada página que escrevi teve origem na minha emoção".

Jorge Luis Borges terá tido ascendência portuguesa: o bisavô de Borges, Francisco, teria nascido em Portugal em 1770 e vivido na localidade de Torre de Moncorvo, situada no Norte de Portugal, antes de emigrar para a Argentina, onde teria casado com Cármen Lafinur.
Jorge Luis Borges nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina, filho do advogado Jorge Guillermo Borges e de Leonor Acevedo Haedo. Aos sete anos de idade já teria revelado ao pai que seria escritor. Aos nove, escreve seu primeiro conto, "La visera fatal", inspirado em um episódio de Dom Quixote. Em 1914, muda-se, com os pais, para a Europa, morando inicialmente em Genebra, na Suíça, onde conclui seus estudos, e depois na Espanha. Em 1921, retorna a Buenos Aires, onde participa activamente da efervescente vida cultural da cidade. Em 1923, publica seu primeiro livro de poemas, "Fervor de Buenos Aires". Iniciava-se, assim, uma das mais brilhantes carreiras literárias do século XX. Borges morreu em Genebra, onde está sepultado, por opção pessoal.
A sua obra destaca-se por abordar temáticas como filosofia (e seus desdobramentos matemáticos), metafísica, mitologia e teologia, em narrativas fantásticas.
Entre seus contos mais conhecidos e comentados podemos citar “A Biblioteca de Babel”, “O Jardim de Veredas que se Bifurcam”, "Pierre Menard, autor do Quixote" (para muitos a pedra angular de sua literatura) e “Funes, o Memorioso”, todos do livro Ficções (1944) - além de "O Zahir", "A escrita do Deus" e O Aleph” (que dá seu nome ao livro de que consta, publicado em 1949). A partir da década de 50, afectado pela progressiva cegueira, Borges passou a dedicar-se à poesia, produzindo obras notáveis como "A cifra" (1981), "Atlas" (um esboço de geografia fantástica, 1984) e "Os conjurados" (1985), sua última obra. Também produziu prosa ("Outras inquisições", ensaios, 1952; "O livro de areia", contos, 1975), notando-se o claro influxo da cegueira.
Recordemo-lo, através de um dos seus poemas:
El Mar
Antes que el sueño (o el terror) tejiera
Mitologias y cosmogonias,
Antes que el tiempo se acuñara en dias,
El mar, el siempre mar, ya estaba y era.
Quién es el mar? Quién es aquel violento
Y antiguo ser que roe los pilares
De la tierra y es uno y muchos mares
Y abismo y resplandor y azar y viento?
Quien lo mira lo ve por vez primera,
Siempre. Com el asombro que las cosas
Elementales dejan, las hermosas
Tardes, la luna, el fuego de una hoguera.
Quién es el mar, quién soy?Lo sabre el dia
Ulterior que sucede a la agonia.
Jorge Luís Borges, El otro, el mismo.

O Mar
Antes que o sonho (ou o terror) tecesse
Mitologias e cosmogonias,
Antes que o tempo se cunhasse em dias,
O mar, o sempre mar, já estava e era.
Quem é o mar? Quem é aquele violento
E antigo ser que rói os pilares
Da terra e é um e muitos mares
E abismo e esplendor e acaso e vento?
Quem para ele olhar vê-o pela primeira vez,
Sempre. Com o assombro que as coisas
Elementares deixam, as belastardes, a lua, o fogo de uma fogueira.
Quem é o mar, quem sou? Sabê-lo-ei no dia
Que se segue à agonia.

Jorge Luís Borges. Trad.: José Agostinho Baptista
in O Mar na Poesia da América Latina, Assírio & Alvim, 1999

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