sábado, 29 de março de 2014

Tertúlia sobre a liberdade

Caros amigos e leitores,
gostaria de vos fazer o seguinte convite.





"Poesia e ... Tertúlias poéticas"


29 de Março Sábado
21h30
Espaço Biscoito

O Grupo Poético de Aveiro vai realizar a terceira sessão do ciclo “Poesia e … Tertúlias Poéticas” em co-organização com a AJA – Associação José Afonso Núcleo Região de Aveiro.
A 3 ª sessão será com o tema Poesia e Liberdade, no dia 29 de Março pelas 21h30, na Galeria Biscoito em Aveiro, com a participação do convidado Manuel Ferreira Rodrigues, que irá apresentar uma comunicação.
Depois da apresentação haverá espaço para debate, partilha de ideias e leitura de poemas dedicados à LIBERDADE.

Venham e tragam poemas...

A actividade é uma organização do Grupo Poético de Aveiro e do Núcleo da Associação José Afonso Região de Aveiro e conta com o apoio da Galeria Biscoito e da ASSECOM-CA.

Contamos com a vossa participação!

Conversas com sabor a canela

Caros amigos e leitores,

gostaria de vos dar a conhecer o evento Conversas com sabor a canela.




“Conversas com sabor a canela” é uma rubrica mensal da Biblioteca Municipal Afonso Duarte, com a colaboração da escritora montemorense Lurdes Breda. Esta iniciativa pretende trazer ao concelho de Montemor-o-Velho autores de abrangência nacional e internacional, ao mesmo tempo que promove e divulga os autores e artistas locais, num ambiente descontraído, em total cumplicidade com o público presente, enquanto se saboreiam biscoitos e chá, por entre literatura, ilustração, música e até mesmo teatro ou dança. Oportunamente, as “Conversas com sabor a canela” decorrerão no Hotel Abade João em Montemor-o-Velho e no café “O Afonso” em Tentúgal, parceiros desta atividade, o que possibilitará a descentralização e a promoção das ações da BMAD e um maior intercâmbio cultural. 
A estreia desta atividade teve lugar no dia 21 de Fevereiro, pelas 21h00, na Biblioteca Municipal Afonso Duarte. A ilustradora Manuela Rocha e o músico João Conde foram  os primeiros convidados destas “Conversas com sabor a canela” e, para além de uma boa conversa, contaram-se histórias cheias de ilustrações e muita música.



Conversas com sabor a canela trouxe no dia 28, pelas 21h00, na Biblioteca Municipal Afonso Duarte em Montemor-o-Velho,  os escritores de Cabo Verde Filinto Silva e Márcia Souto e o português Manuel Ribeiro na guitarra portuguesa.



https://www.facebook.com/conversascanela

Dia Mundial Da Poesia (atrasado)

Caros amigos e leitores,
No Dia Mundial da Poesia, deixo aqui um poema da minha amiga galega Asun Estévez Estévez.


XUNTAS

A poesía respira,
ten vida propia.
Camiña ao meu lado,
namórame cada día.
A poesía déixame abrazala,
goréceme do frío.
Eu sei que son dela,
ela sabe que é miña.
Unha coa outra
somos palabra,
construímonos xuntas,
facemos mundo.
Tocamos o ceo.

Asun Estévez

domingo, 16 de março de 2014

Morreu Fina D'Armada

Caros amigos e leitores,
morreu Fina D'Armada. Para muitos este nome não dirá muito, o que é uma pena. Tive o prazer de a conhecer um dia num encontro da Bookcrossing e fiquei conquistada pela sua frontalidade, clareza de pensamento e inteligência. Deixo aqui a sua biografia e um  dos seus últimos poemas. RIP.


A historiadora Fina d'Armada, de 68 anos, morreu hoje de manhã na sua residência, em Rio Tinto, concelho de Gondomar, onde vivia desde 1981, disse à Lusa fonte da Junta de Freguesia.
O corpo da historiadora está a ser velado na igreja matriz de Rio Tinto, de onde sairá às 22h de hoje para Vila Praia de Âncora, realizando-se o funeral no sábado, disse a mesma fonte.
Fina d'Armada é o pseudónimo literário de Josefina Teresa Fernandes Moreira, natural da Quinta d'Armada, na freguesia de Riba de Âncora, no concelho de Caminha.
Historiadora, poetisa e cronista, Fina d'Armada é autora de cerca de 12 títulos e coautora de 39 obras. Para se definir a si mesma, usava uma frase da investigadora Carolina Michaellis de Vasconcelos: "Eu não tenho biografia, passei a vida a estudar". Numa entrevista à Lusa, declarou: "O meu curriculum é apenas o produto dos meus estudos".
Em 2003 concluiu o mestrado em Estudos sobre as Mulheres, na Universidade Aberta, com uma tese que foi publicada sob o título "Mulheres Navegantes no Tempo de Vasco da Gama" (2006), que lhe valeu o Prémio Mulher Investigação Carolina Michaelis de  Vasconcelos.
A autora está incluída na "Antologia de Poetas do Alto Minho", de Laureano Santos, no "Dicionário de Mulheres Rebeldes", de Ana Barradas, no "Dicionário Internacional de Arte e Literatura" e na obra "Letras de Fronteira do Val do Miño Transfonteirizo",  estes dois últimos editados em Espanha.
Fina d'Armada colaborou com nomes como Natália Correia e Albano Magalhães, com os quais, entre outras iniciativas, escreveu a "Monografia da Vila de Fânzeres".

Ler mais: http://expresso.sapo.pt/morreu-fina-darmada=f859820#ixzz2w8EKZBcg




Metades de Vida
 Fina d’Armada

            Estou prostrada entre brancos dum hospital
            e neve cai na cidade onde rara, raramente cai.

            Metade de mim é corpo doente, operado.
            A outra metade é confusão, atordoamento.

Metade de mim é véspera do nada,
lamentando o perdido, o que não fiz.
A outra metade vagueia entre imagens
da minha gente, da minha casa, dum tempo feliz.

Metade de mim é preocupação, é dor, é silêncio,
é medo, é sofrimento, é queixume…
A outra metade é força, energia, vontade,
um querer de onda brava, vigor de lume.

A neve cai para lá da vidraça
na cidade onde rara, raramente cai.

Metade de mim está presa. É tubos, é drenos,
é agulhas, é remédios, é batas brancas.
A outra metade é asa, é liberdade.

Metade de mim é lágrima,
a outra metade esperança.

Metade de mim é oração, pensar no além, na eternidade.
A outra quer voltar aos milhos, aos pinhais, correr sem idade.

Esforço-me para sair destes brancos, sentir a neve.
Para que metade de mim seja centelha na humanidade
e a outra metade na humanidade centelha.
Para que metade de mim seja pedacinho dum todo
e a outra metade do todo um pedacinho.

Ó saber humano, ó mãos da medicina,
ó Criador, ó forças benfazejas do universo!
Fazei que metade de mim seja vida
e a outra metade também.
E fazei das metades fundidas, em união:
fonte, semente, recomeço, madrugada
de uma renovada obra da criação.

(9 de Janeiro de 2009, quando nevou na cidade do Porto, estando eu no IPO).
(São 33 versos, número de morte e ressurreição)


sexta-feira, 7 de março de 2014

Dia da Mulher




Caros amigos e leitores,

a propósito do Dia da Mulher, deixo-vos um poema do meu último livro Paixão em 5 Atos.



mulher

vibrante
plena
saciada

de novo
renascida
renovada

em êxtase
de corpo inteiro
amada

sou mulher




Quadro de Acácio Rodrigues



quinta-feira, 6 de março de 2014

Margem do ser de António MR Martins

Caros amigos e leitores,
convido-vos para o seguinte lançamento. Apareçam.



quarta-feira, 5 de março de 2014

Retoma

Caros amigos e leitores,

como já devem ter reparado este ano ainda não me tinha estreado. Muitos afazeres profissionais e alguns contratempos familiares e de saúde não me têm permitido dedicar-me como gostaria ao blogue. Vou tentar voltar às lides com mais frequência.

Cansada de ver o José Sócrates, do alto da sua cadeira, comentar tudo e todos, como se parte da responsabilidade do estado do país não lhe coubesse em medida, lembrei-me de um conto que já escrevi há alguns anos, mas que nunca publiquei. Espero que se divirtam tanto a lê-lo como eu me diverti a escrevê-lo.


No Reino de Portugal e dos Allgarves

Era uma vez um reino muito distante, em forma de pequeno rectângulo, engolido por todos os lados, menos por um,: um outro retângulo maior e bem mais vistoso. No final da geometria, era um rectângulo sem importância de monta.
Como rei todo-poderoso, era monarca deste reino Sua Majestade El-Rei Pinócrates I. Era um rei algo bizarro que havia conquistado o trono quando todos os seus súbditos se encontram distraídos num torneio medieval de Pé-na-Bola. Forjou discretamente um édito real e, com artes de Circe, autoelegeu-se soberano. Pasmem os céus e a Terra!
O rei tinha qualidades mil: desenhava palácios inusitados a até falava a língua de Shakespeare, na versão técnica, curso intensivo tirado num fim-de-semana, entre uma inspecção aos poços do reino e uma caçada aos gambozinos. Havia apenas um senão: ninguém no reino da rainha Nunca-mais-Morres entendia um só vocábulo de tão original linguarejar… Ofendido com tamanha iliteracia da ralé, vociferava que se consultassem os doutos pergaminhos. E enquanto isso o seu nariz crescia.
O monarca travava guerras sangrentas com éditos mil contra a burocracia vigente e decretou, sem mais delongas, uma carta magna, pomposamente apelidada de Simplex. Havia apenas um problema: insignificante, é claro. Quem pretendia jogar por esta cartilha, deparava-se com manuscritos tais que todos decidiram mudar-lhe o nome para Complex. E o nariz ia crescendo.
Era um suserano ambicioso que tinha em mente incentivar as artes e ofícios do seu território. Na Rua dos Onzeneiros, orgulhava-se de desfilar com o seu séquito real. As aias e as meretrizes bem diziam que o rei ia nu, mas os espelhos do reino haviam sido todos estilhaçados. Ordem de Sua Alteza Real, Pinócrates I. Lembrava-se bem da história da Branca de Neve e da sua tenebrosa madrasta. Não, nem pensar! Este rei não queria cá desses feitiços. Pozinhos mágicos, só os seus, que mandava ali era ele, pois então! A ralé bem mendigava uma esmolita, clamando, de quando em vez, numa voz ténue e medrosa, por justiça. Injuriavam os Mouros, os Castelhanos e os Ianques, culpavam o Tesoureriro-mor, mas lá continuavam, obedientemente a laborar nos terrenos do reino. O rei, do alto da sua tribuna, vociferava: era um incompreendido! Se gastasse o erário régio a ajudar os pobres dos Onzeneiros, como poderia ele acudir aos necessitados? Ele tinha uma corte para sustentar. Uma «fora-de-praia» aqui, outra «fora-de-praia» acoli, numa ilha de qualquer rei sapiente, qualquer rei, que se preze, tem que ter! E lá ia mandando os escribas registar exactamente o contrário. E o nariz sempre a crescer.
Sua Alteza Real habitava num faustoso palácio, conquistado com ardis mercantices e sábio uso dos impostos do Terceiro Estado. Sonhava ser Robim dos Bosques e acabara sendo Xerife de Nottingham! Com os dobrões de ouro, sonegados a fio de espada, vivia rodeado de convivas do reino da Rainha Nunca-mais-Morres. Eram Bretões expeditos, nobremente convidados para explorar os domínios dos outrora fielmente aliados. Havia portos livres de impostos e livre circulação de pessoas e carruagens. Os comparsas deste rei eram todos detentores de magníficos castelos, cheios de sacos azuis do vil metal. Escondiam-nos tão bem escondidos que nem o Rei Pinócrates I sabia bem o quanto os cofres reais eram saqueados.
Mas sempre ia vociferando que era preciso apertar o cinto, e o Zé Povinho, que já nem cinto tinha, agarrava-se aos andrajos que trazia, rotos e puídos, não vislumbrava pão com que dar forma aos ossos proeminentes. E o nariz do rei continuava a crescer…
Do alto do seu palácio de Belém, qual redentor do mundo, mirava sobranceiro o seu reino, a perder de vista. O rei usava lupa de aumentar em segredo, mas isso, ninguém sabia. Havia apenas um pequeno território insular que o preocupava pois constava que um súbdito seu se arrogava o título de Rei do Entrudo. Descaramento só punível com cem chicotadas. Castigo eternamente adiado, pois os algozes eram anões ao pé do gigante Adamastor, que vomitava fogo ao mínimo sinal de que o seu território estava ameaçado. E fazia sinais de fumo numa língua admirável e ainda mais incompreensível do que aquela que o rei falava.
O altivo monarca era fervoroso adepto dos reis de antigamente. Ai que saudades de uns bons açoites e de uma fogueira em praça pública! Mandaria todos os almocreves piolhosos e maldizentes ao castigo da carne. Mas os conselheiros do reino, sempre cautelosos e ciosos de não perder a cadeira, num reino no qual já houvera reis que dela caíram, com consequências nefastas, receitavam mezinhas para acalmar os ânimos.
Como ainda não tinha descoberto a fórmula certa para promulgar as leis que lhe permitissem assegurar um reinado eterno, contratava trovadores e bobos para entreterem a corte e as multidões amotinadas. Nos serões de cantigas de escárnio e maldizer, convidava reis absolutos e monarcas absolutistas para ter personalidades à altura dos seus ambiciosos projetos e personalidade irradiante. O seu mais fiel aliado, cavalgava amiúde por vales e montanhas, no seu alazão negro, de nome El Condor Pasa. Esse sim, era um rei como mandava a lei, a ordem e os bons costumes. Um reino com uma corte leal e submissa, agradecida ao grande monarca iluminado, que até cantava e dançava enquanto distribuía palhotas. Um dia, ai um dia, ainda havia de fazer o mesmo no reino da Pinocolândia! E enquanto matutava nesta estratégia, ia oferecendo ardósias com nome de um grande navegador, anunciando justiça e prosperidade para todos. Enquanto a arraia-miúda se distraía com as gravuras multicolores, o nariz do seu rei crescia e crescia.
Sua majestade não tolerava a contestação e tencionava mandar eternamente para as masmorras os inimigos do reino. Os maiores amotinados era um grupo de escribas desobedientes, que teimavam resistir, agora e sempre, ao inimigo. Era uma verdadeira praga o punhado de ratazanas que sabia ler e escrever. Difundiam campanhas negras e difamatórias de um rei que apenas tinha por missão servir! Ao exílio! Para a selva do rei aliado! Lá nunca mais abririam a boca nem pegariam na pena. Só se fosse na pena de morte. E parlamentava com os escribas, tentando convencê-los a assinar éditos reais que os condenassem ad eterno. Mas o problema era que os escribas sabiam mesmo ler e não caíam, facilmente, nos ardis de tal Pinóquio. E o seu nariz não parava de crescer!
Eis então que um dia, na província dos Allgarves, território de grandes riquezas, o maior grupo de estrangeirados, se rebelou de repente. Eram saxões fortes, arrogantes e de barba rija. Já estavam fartos que um rei desnudo ousasse comandar os seus destinos e julgar as suas acções. Mandaram chamar um enviado secreto da rainha Nunca-mais-Morres que, em menos de nada, organizou uma revolução elitista que derrubou o Rei Pinócrates I, que nem teve tempo de abrir a boca. Foi uma revolução pacífica, pois neste reino de povo que ladra mas nunca morde, o único obstáculo era mesmo o nariz do altivo monarca. Eis então que os bárbaros do norte tiveram uma brilhante ideia: convocaram lenhadores de todos os cantos do reino e, à força de valentes machadadas, deceparam o famoso apêndice. Com a madeira obtida, fizeram uma jangada de pau oco e enviaram os habitantes do reino para o mar alto, em busca de um novo reino, sem soberanos, nem súbditos. Consta que até hoje essa jangada anda à deriva, sem rei, nem lei.
Quanto ao Rei Pinócrates I, exilou-se no país do Grande Irmão e vive à grande e à americana, na sua hacienda, fortemente guardada pelos clones que teimaram em não descolar da sua sombra.
Fábula da fábula: nunca invoques Némesis em nome da governação.

Ana Paula Mabrouk
08-03-2009