terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Arranja-me um emprego - crónica

Caros amigos e leitores,
pediram-me desta vez para escrever uma crónica sobre Escola, Emprego e Profissões. Esta não era fácil!
Inspirei-me em Sérgio Godinho e foi isto que saiu. Espero que gostem.

Crónica: A força das palavras
“Arranja-me um emprego” por Ana Paula Amaro



(…)
Se eu mandasse neles 
os teus trabalhadores
 
seriam uns amores
 
greves era só
 
das seis e meia às sete
 
em frente a um cassetete
 
primeiro de Maio
 
só de quinze em quinze anos
 
feriado em Abril
 
só no dia dos enganos
 
e reivindicações
 
quanto baste ma non troppo
 
anda, bebe mais um copo
 
arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego 
pode ser na tua empresa
 
concerteza
 
que eu dava conta do recado
 
e para ti era um sossego”
Sérgio Godinho
Quando me pediram para escrever uma crónica cujos temas eram Escola, Emprego, Profissões, a primeira coisa que me veio à mente foi esta canção de Sérgio Godinho. Numa época cujos telejornais nos entram pela casa dentro com palavras como crise, recessão, desemprego e classificações de Portugal como “lixo” e o governo insiste sempre na mesma solução – cortar direitos aos trabalhadores do estado, tendo sempre o cuidado de excluir aqueles que “prestaram um serviço de reconhecido mérito”, leia-se vulgarmente os políticos – apetece ecoar as palavras deste sábio músico. Aliás os músicos, desde os Deolinda com a canção “Parva que eu sou” até ao Boss AC com “É sexta feira” têm sabido como ninguém espelhar a situação da juventude portuguesa e a sua relação com o emprego. Neste país, em tudo cinzento, insiste-se em deprimir as massas para, mais facilmente, as poder moldar às linhas-mestre da governação. Ou deveria dizer: desgovernação? Toda a gente sabe que um dos princípios dos regimes ditatoriais é manter os seus habitantes na máxima ignorância possível para que eles não tenham a capacidade de se sublevar e de agir contra quem os oprime. A ignorância é a mãe de todos os vícios. E infelizmente neste meu país o que mais se assiste é à ascensão de pessoas ignorantes através da famosa cunha, do chico-espertismo e de esquemas “manhosos” para contornar a exigência, o rigor e o profissionalismo. Atente-se no caso dos nossos políticos e dos seus cursos da treta.
A educação de base, com rigor e exigência, é o único garante de solidez numa formação que sempre dará frutos. Na atual conjuntura económica e de crise de valores humanitários e éticos pode parecer uma perda de tempo investir na educação mas ela é o único garante de um verdadeiro sucesso consolidado. Quem for excelente naquilo que se propuser fazer, encontrará sempre um lugar. Pode demorar, pode não ser neste país conformado ao fado do “coitadinho” mas quem procurar com afinco e determinação sempre encontrará. Cabe-nos a nós professores plantar as sementes e ter a sabedoria necessária para criar as condições para o seu desenvolvimento um dia. Ser professor, nestes tempos conturbados, significa educar gente corajosa, inquieta, capaz de pensar por si própria, capaz de agir em causas que valham realmente a pena. Entristece-me quando vejo que as energias de um povo se canalizam em massa quando é preciso votar para um programa de televisão que promove gente burra e mal educada ou para receber um autocarro de uma equipa de futebol com cânticos gastos e very lights mas essas mesmas pessoas são incapazes de se mexerem para arranjar um emprego ou lutarem civicamente pelos direitos e liberdades básicas consignadas na Constituição Portuguesa. Continuamos a promover uma política de “yes men” dispostos a aguentar todas as imposições e indignidades sem contestar abertamente nem usar dos meios ao seu dispor para expulsar aqueles que impõem regras às quais são os primeiros a fugir.
Portugueses! Portuguesas! Nas palavras do nosso hino “Às armas! Às armas!” E essas armas são a educação como base de uma sociedade evoluída, capaz de se regenerar e de vencer batalhas difíceis com orgulho no nosso passado mas sobretudo no futuro que estamos, todos os dias, a construir. Fora com o pessimismo e o “desfado” nacional. Estamos aqui para vencer e, se investirmos naquilo que vale realmente a pena, seremos vencedores inquestionáveis. Sim, podemos!

“Tudo está na educação. O pêssego dantes era uma amêndoa amarga; a couve-flor não é mais do que uma couve que andou na universidade”   Mark Twain

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Apresentação do livro Da cor dos meus Olhos de Dinis Muacho

Caros amigos e leitores,
deixo-vos hoje com o texto de apresentação da obra Da cor dos meus Olhos de Dinis Muacho, obra que apresentei no dia 24 de novembro de 2013, na Aldeia Velha de Santa Margarida,Concelho de Avis.


Da cor dos meus Olhos de Dinis Muacho
Apresentação e Aldeia Velha, 24 novembro 2013

Em primeiro lugar quero agradecer ao escritor Dinis Muacho o convite que me foi endereçado para efetuar a apresentação deste seu livro de sonetos nesta que é a sua terra natal. Agradeço também ao outro elemento da mesa, o Dr José Coelho, prefaciador do livro, o douto contributo para a explanação e melhor conhecimento desta obra e do seu autor. A todos os presentes, o meu agradecimento pela presença nesta tarde outonal que certamente nos irá enriquecer a todos.





Da Cor dos meus Olhos é um livro de sonetos escritos entre 31 de agosto de 2004 e 25 novembro 2012. É um período de 8 anos que gira em torno dos temas apresentados desde logo no soneto de Camões que introduz esta obra: o Fogo, a Fortuna, o Amor, o Ar, a Terra e a Água. Estes seis elementos – quatro chamados de naturais e mais 2 introduzidos pelo eu poético – consubstanciam um poemário expresso em sonetos clássicos ao estilo camoniano, composto por doze versos (2 quartetos e dois tercetos), de verso decassílabo, acentuado muitas vezes na 2ª, 4ª, 6ª, 8ª e 10ª sílabas (pentâmero jâmbico) e com uma estrutura rimática que, não sendo una, muitas vezes é expressa num esquema de abba (rima interpolada) nos quartetos e cde (rima cruzada) nos tercetos.

O primeiro soneto – da Cor dos meus Olhos – que dá origem ao título do livro, é um poema emblemático, no sentido em que, assim como os olhos, espelha a alma alentejana na sua plenitude, centro e âncora deste poeta que se alimenta das suas raízes. As referências à planície, ao trigo, à terra, ao sol, ao vento, à vegetação silvestre e espontânea, que cresce nos montados, não constituem um mero adorno estético da palavra: elas brotam da alma como os cardos brotam da terra a perder de vista.

No que se refere à estrutura externa deste poemário, podemos considerar que ele se divide em sete partes de vinte poemas cada. Esse número sete apresenta-se como sendo, místico, misterioso, aritmeticamente particular e, principalmente, como sendo o número da Criação. Ao identificá-lo com a soma de 3 (Trindade Divina) mais 4 (os quatro elementos do número físico), o sete surge como a união do homem com Deus. Não será por acaso que somos imersos neste universo de transcendentalidade, uma vez que o poeta tem, entre as suas muitas paixões, uma curiosidade particular pela espiritualidade que o leva a explorar outras nuances da existência.

A primeira parte deste livro de sonetos culmina com uma ilustração que simboliza a terra. A terra é sem dúvida alguma o ponto de partida e de chegada deste poeta do signo Capricórnio, um signo ligado à terra.  De facto, é de terra ou de terras que falam os primeiros poemas. Falam-nos de Campo Maior, das suas tradições, do elogio ao povo camponês, do casario branco. O poeta vai buscar inspiração no local onde tem as suas raízes familiares para iniciar a aventura de partir. Nas suas próprias palavras “Também sou filho da terra” (pág. 19). “Estes campos cheios de azeites, de pão… e de vida” (pág. 21), “o celeiro da nação”, povoam a escrita prenhe de amor ao chão que o viu nascer. Pelo meio vamos lendo outros poemas, como o soneto dedicado ao seu irmão Paulo Muacho, a quem dedica este livro, ou poemas escritos em Évora enquanto estudantes dos terceiro e quarto anos. No entanto, estes poemas mais não são do que papoilas coloridas na seara dourada que ondula ao vento ao cair do pôr-do-sol. Regressa-se sempre à Aldeia Velha de Santa Margarida para, no silêncio do entardecer, evocar a nostalgia de amores passados, como no soneto Jóia Rara, no qual predominam sentimentos de tristeza, melancolia, ausência de esperança – “…mais um dia e eu sem te ver!” (pág 24)- pontuados, aqui e além, por referências a outros poetas como Florbela Espanca (págs. 30 e 31) ou a figuras históricas da nação – D: João I, mestre de Avis (pág. 32).

A segunda sequência inicia-se com um elogio à poesia – “És a voz minha e o meu sentimento” (p. 38) e termina, após 20 poemas, com uma ilustração da Roda da Fortuna. Esta é considerada a carta de Tarot mais complexa e pode consubstanciar uma mudança rápida. A Roda da Fortuna representa as situações de mudanças na nossa vida. Essas mudanças fazem-nos sair de uma rotina que faz com que a vida tenha pouco gosto e variedade. Ela vem trazer as novidades, as surpresas e assim traz um novo gosto para a vida. Poder-se-á afirmar que a noite se transformou em dia.
Os sonetos desta seção foram escritos entre a Aldeia Velha e Évora. A poesia simboliza a mudança: “És triste, és alegre e tens cor” (pág. 38). A esmagadora maioria dos poemas são de amor, com referência a nomes de mulheres, metamorfoseados em elementos da Natureza. Exemplos emblemáticos dessa metamorfose são os poemas Borboleta Colorida (pág. 41) e Hortência Branca (pág. 42). Fluem sentimentos como a “paixão intensa, terno desejo, carinho imenso tão reluzente” (pág. 39). Mas mesmo nesta seção continuamos a ter apontamentos relativos à imensidão do Alentejo, assim como o reforço do sentimento de solidão do eu poético – “Há uma imensidão que nos devora”, pode ler-se na página 47. Constantes são também as referências históricas às caravelas, a Camões (pág. 50) e ainda a uma viagem efetuada a São Tomé e Príncipe (pág. 54). Estamos perante uma panóplia de sentimentos regidos pelos sóis, luas e mar que fazem rodar a Roda da Fortuna.

A terceira sequência inclui poemas que foram escritos em vários lugares e encerra com a ilustração do Fogo. Ela canta o fogo que foi, evocação de um grande amor que ficou para trás. Esta pode, sem dúvida alguma, ser considerada a sequência dedicada ao amor e à paixão, motor da força anímica que parece ressuscitar – “Voltei à vida, levantei-me do jazigo” (pág.59). A sensualidade da mulher Petrarca, uma musa inspiradora que assume vários nomes, emana das linhas dos poemas e não se fica pelo amor platónico mas retrata vivamente os prazeres da paixão – “beijos loucos em correria” (pág.61) ou “olhos loucos a queimar” (pág. 66). A volúpia está patente nas referências aos seios, aos corpos nus, aos lábios carnais, aos olhos ciganos. No final, retrospetivamente, fica a certeza do eu poético que desabafa: “Esta tristeza de ser triste/ quem ma rogou?” (pág. 67). Mesmo no auge da paixão, continua a vislumbra-se as terras e as raízes alentejanas, como no poema Pedras da Anta, dedicado ao Ti Renato, guardador de cabras e analfabeto de olho azul, galã proletário ou a Ouguela, antiga cidade de Cuenca, sita na zona raiana, terra do pai do poeta.
Esta seção contém o meu poema preferido de todo o livro, O meu Poema , que poderia bem ser a súmula perfeita deste livro – “Fiz da minha vida um poema/ Da minha casa os chaparrais/Da minh’alma eternos vendavais/Dos meus olhos a flor da alfazema.” (pág. 76).

A quarta sequência termina com uma ilustração referente ao elemento Ar. O eu poético quase que afirma que vive “no ar”, sem chão, em mundos paralelos. Adivinha-se uma fase difícil, na qual é necessário recomeçar, e nada melhor para a ilustrar do que a referência à poesia de Mário Cezariny – “Ama como a estrada que começa” (pág. 80). Após acordar para a realidade nua e crua – “Acordei! Já não dormes a meu lado” (pág.80) é preciso reencontrar a razão e a alegria de viver. Os sonetos são pungentes e transmitem sentimentos de mágoas, lamento, solidão, tristeza e saudade. A alma alentejana ecoa amiúde palavras de Florbela Espanca e retoma o mote do poema inicial de Camões, no soneto intitulado Elementos (pág. 93). Esta tristeza só encontra algum bálsamo para a alma ferida no regresso a casa. Nesse contexto aparecem de novo referências a Ouguela, Elvas, Sobreira dos Lobos, entre outras. Na solidão dos lugares, o eu-poético confessa: “A noite cai e ninguém me abraça” (pág. 89).

A quinta sequência culmina com uma ilustração alusiva ao Amor, numa clara antecipação do que ainda está para vir. Nos poemas Inconstância (pág. 103)e Malditos (pág. 118), retoma-se o leit motiv desta obra com uma nova alusão aos elementos iniciais. Parece haver uma necessidade de recapitulação da matéria dada para poder avançar. A repetição mostra-se também nos ecos de Florbela, presença omnipresente neste poemário, no poema Diversidade (pág. 116).  Está é provavelmente a sequência mais diversa, com referências a Lisboa, Sobreiras dos Lobos, Fado Coimbrão, Porto, São Miguel. Mistura-se gente alentejana (gente daqui) com o último Rei de Portugal! O eu-poético indicia desnorteamento e desmultiplicação. Em todo o lado se procura e em nenhum se encontra, pois ele é Prisioneiro do Nada (pág. 114) e parece “que ando escrevendo, sem escrever nada!” (pág.120)

Na sexta sequência a ilustração final é a da Água. O eu-poético sente-se como peixe na água pois considera ter encontrado o melhor domínio da sua escrita. Mergulha numa fase mais madura, ponderada e de equilíbrio emocional e estético. Abundam poemas de amor que demonstram a vontade de voltar a acreditar no amor. Os olhos azuis, cor da água, vêm agora suceder aos olhos castanhos e verdes, que os antecederam.- “A Primavera voltou de novo viçosa” (pág. 134). O autor inspira-se noutros poetas maiores como Camões ou Pessoa e, apesar de escrever um pouco em todo o lado (Porto Santo, Coimbra, Açores), regressa às origens, Alfa e Ómega de toda a sua produção poética. E aí nas “sulidões” dos verdes campos, entre as margaridas, as azinheiras e o trigo, que encontra finalmente a sua paz interior e se reencontra consigo mesmo.

A sétima sequência, que encerra este livro de sonetos, não tem uma ilustração, o que pode, à primeira vista, parecer estranho. No entanto, esgotados que foram os seis elementos enumerados no poema de abertura, poderemos especular que a sequência final conjuga todos eles e, por conseguinte, não poderia apresentar uma única ilustração. Fica ao critério e à imaginação do leitor evocar e/ou convocar todas as imagens anteriores e sobrepô-las, de forma a constituírem uma imagem mental global com sentido. Terá o eu-poético atingido a plenitude a que vulgarmente se designa de felicidade? No poema com esse título temos a resposta – “Felicidade? Não é pr’a poetas…” (pág. 145). Paira no ar, contudo, um certo encantamento pela menina dos olhos azuis – “Oh meu amor, minha amante, minha amiga” (pág. 152). Este amor que se solta dos lábios, da voz, dos sonhos traz serenidade. É um céu sem nuvens que ilumina os campos de azinheiras. No entanto, o eu-poético já não se cinge apenas ao horizonte alentejano. Precisa de um mundo maior, de um mar com canoas que seja porto de partida para outras aventuras. É preciso soltar amarras e puxar a âncora, o que demonstra uma nova confiança no futuro.
 O último poema, intitulado Sete é um poema de amor – “Promete/Ser só por amor que se colam as bocas tontas!” (pág. 162). Seria, todavia, muito redutor não atentar no número que nos traz à memória a estrela de Salomão, onde dois triângulos se cruzam: um ascendente e outro descendente. As seis pontas, mais o ponto central, somam o sete místico, simbolizando a união do céu e da terra, do Bem e do Mal, do divino e do humano. O sete simboliza, no final de tudo, a busca da perfeição. E é com magia que este poemário termina, vincando a ideia de que o melhor ainda está para vir. Ficaremos todos à espera do melhor de Dinis Muacho e ele, certamente, não nos irá desiludir.

Ana Paula Mabrouk
24 novembro 2013

Aldeia Velha de Santa Margarida

sábado, 7 de dezembro de 2013

3ª sessão de apresentação do meu livro de poemas Paixão em 5 atos

Caros amigos e leitores,

decorreu na passada 5ª feira, dia 5 de dezembro a 3ªsessão de apresentação do meu livro de poemas Paixão em 5 atos. Desta vez teve lugar na Biblioteca de Condeixa-a-Nova, pelas 17 horas e 30 minutos.

A apresentação do livro esteve a cargo da PROF.ª HELENA ARAÚJO.

O acompanhamento musical foi feito pelo PROF. MÁRIO ALVES e pela ex-aluna da minha escola MARIANA PEDROSA.


A leitura de poemas foi efetuada pela PROF.ª ANABELA COSTA.


Teve ainda a Colaboração do Curso de Turismo da Escola Secundária Fernando Namora e a representação de um elemento do executivo camarário, Dr. Carlos Canais. A Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova teve ainda a gentileza de oferecer uma escarpiada de honra a todos os convidados.


Termino com os agradecimentos a todos os envolvidos a Mário AlvesHelena AraújoMariana Pedrosa, Anabela Costa (tirei os Dr. todos pois sei que não se importam), DR. Carlos Canais, Hugo e Maria do Curso de Técnico de Turismo, à Biblioteca Municipal de Condeixa-a-Nova e ao Jornal Região de Condeixa pela colaboração na sessão de apresentação do meu livro Paixão em 5 atos.

Sinto que sou uma pessoa feliz. Para além de uma sessão cheia de afetos e de intimismo ainda fui surpreendida pela oferta de um esboço a carvão replicando a minha capa e com o testemunho de um ex-aluno que muito me comoveu. Parece que afinal de contas vou deixando pérolas pelo caminho que atravesso nesta vida. Hoje senti que, de facto, tudo vale a pena. Obrigada a todos do fundo do meu coração. Beijos grandes.


quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Macondo de Fausto Giaccone

Caros leitores e amigos,
na passada 2ª feira estive na Mercearia de Arte (Galeria em Coimbra) para assistir à


Apresentação “Macondo – The World of Gabriel Garcia Márquez” por Fausto Giaccone.

Foi uma sessão muito interessante na qual o fotógrafo exibiu as fotografias tiradas entre 2006 e 2010 na Colômbia do "Gabito" e contou as histórias por detrás das mesmas. Foi uma pena ter tido um público tão reduzido numa Coimbra cujos círculos "intelectuais" se circunscrevem, cada um, ao seu feudo e não se misturam. Cidade velha, de mentalidades velhas....





O mundo literário de Marquez magicamente revelado pelo artista italiano Fausto Giaccone. Como Gerald Martin, o mais importante biógrafo de Márquez escreveu: "Passei quase vinte anos de minha vida pesquisando uma biografia da vida e obra de Gabriel García Márquez, um dos maiores escritores do mundo, não só em bibliotecas e arquivos, mas ao longo de estradas, rios e costas da Colômbia, tomando notas em todos os lugares que visitei. Enquanto isso, de forma totalmente independente, um outro europeu, Fausto Giaccone, criou um testemunho visual e equivalente dessas experiências, viajando também ao longo das estradas, rios e costas da Colômbia, tirando fotos em todos esses lugares que visitou. E aqui estão elas, neste maravilhoso livro. E aqui estou eu introduzi-los ao mundo”.



Fausto Giaccone nasceu na Toscana, em San Vincenzo, em 1943. Cresceu em Palermo, onde iniciou seus estudos de arquitetura que vai acabaria em Roma, para onde se mudou em 1965. O ano de 1968 com o início da revolta estudantil, marca a sua decisão de dedicar-se inteiramente à fotografia. Desde então, vive como um fotógrafo freelance dedicado principalmente à reportagem social. As suas primeiras colaborações são com periódicos, como o L'Astrolabe, Vie Nuove, Noi Donne. Na segunda parte da década de 70, trabalha em vários documentários para a televisão, em África e também na América Latina. Nos últimos anos tem trabalhado sobretudo com revistas de viagens, propondo temas por si escolhidos. Giaccone é representado pela agência Anzenberger de Viena, desde 1995. Em 1987 publicou o livro " Uma História Portuguesa", sobre o período quente da "Revolução dos Cravos ".

domingo, 1 de dezembro de 2013

Arte à Mesa

Caros amigos e leitores,

inicio hoje divulgação intensa de atividades do mês de dezembro relativas a pintura, literatura e música em Coimbra. Estão todos convidados. Por favor apareçam e contribuam para o alargamento da comunidade artística coimbrã.



O Restaurante Nacional, rua Mário Pais, 12 1º andar, Coimbra, inaugura a 30 de novembro, pelas 19h30, a 148ª edição do Arte à Mesa, com um exposição coletiva de Pintura e Fotografia - "O inverno passado foi o nosso esquecimento", patente até 28 de dezembro.
Esta coletiva integra trabalhos dos artistas: Maria da Guia Pimpão, Rui Matos, Adélia F., Victor Costa, Joaquim Baptista, Fernando Cosme, Francisco Paiva, Bráulio Figo, e numa parceria com a Mercearia de Arte, os artistas: Mariana Sampaio, João Teixeira, Sebastião Casanova, Cátia Martins e Hamilton Francisco.

Arte à Mesa é um círculo de resistência cultural, constituído por um sem número de «Amantes de Todas as Artes» voluntariamente eclético que, cruzando gastronomia e culturas, promove mostras de manifestações artísticas e encontros de trocas de ideias e saberes, em plena liberdade sem angústias no Nacional, desde 1999.

Com quase uma centena e meia de exposições realizadas, Arte à Mesa encontra-se aberta e disponível para receber e divulgar todos os Artistas que queiram exibir os seus trabalhos nas magníficas salas do Nacional.

domingo, 17 de novembro de 2013

Irene Lisboa


Caros amigos e leitores,
respondendo a um pedido do meu amigo e escritor Paulo Câmara, divulgo aqui o perfil da escritora Irene Lisboa.


Ora bem... vou lançar-vos um desafio. Comemora-se Irene Lisboa no dia 25 de novembro. Até lá (e depois disso, se quiserem) vamos publicar  uma foto, um excerto de obra, um artigo, uma opinião, um poema (o que quiserem) desta escritora esquecida. Nem mesmo os arrudenses se lembra de a ler, apesar de ter sido considerada por alguns como a única escritora inovadora do século XX português. Pelo menos nós, arrudenses, temos a obrigação de a valorizar e divulgar, não só anualmente, mas sempre. Paulo Câmara




Poetisa e ficcionista. Foi professora primária, realizou estudos de pedagogia na Suíça, França e Bélgica, tendo, neste domínio, publicado alguns estudos sob o pseudónimo de Manuel Soares. Colaborou em publicações periódicas como Presença, Sol Nascente, Seara Nova, Litoral e Cadernos de Poesia. Depois da publicação do volume de prosa 13 Contarelos , Irene Lisboa faz a sua verdadeira estreia no domínio das Letras portuguesas com a publicação das obras de poesia Um Dia e Outro Dia (1936) e Outono Havias de Vir (1937), sob o pseudónimo de João Falco. Obras acolhidas com louvor por uma parte da crítica, sobretudo aquela próxima de Seara Nova , e que inauguram, para José Gomes Ferreira, um novo molde de escrita poética feminina, levando "a poesia até às últimas consequências do desconcerto formal, dessacralizando-a , esvaziando-a de todos os rituais, sem contudo a banalizar nem tomar ares de revolucionária indómita" (p. 19), sendo que a "preferência não escondida pela gente do povo e o amor por certas pequeninas coisas" são alguns dos traços que lhe valeriam, na sua carreira literária, uma injusta indiferença por parte das casas editoras e da crítica mais conservadora. Do ponto de vista formal, a ruptura com os cânones da lírica tradicional funda-se numa poesia de rigor novo, a uma vista inadvertida, próxima da prosa ("Achaste a forma que te convinha,/a forma boa para o teu pensamento.../metrificada ou não/mas curta, emotiva,/exclamativa. /Como tu agora escreves/pensamos nós todos/infinitas vezes." (in "Outro Dia", Um Dia e Outro Dia... ); "Escrever assim... / escrever sem arte,/sem cuidado,/sem estilo,/sem nobreza,/sem lindeza.../sem maior concentração,/sem grandes pensamentos,/sem belas comparações,/não será escrever!/Mas assim me apetece,/que o entendam ou não,/que o admitam ou não,/escrever.../estender/o delgado, esfiado,/inoperante/pensamento." (in "Outro Dia" in Um Dia e Outro Dia... ), impressão corroborada pela epígrafe que abre o segundo volume de versos, Ao que vos parecer versos chamai verso e ao resto chamai prosa , e que ficaria célebre na polémica - que teve como defensores, entre outros, Adolfo Casais Monteiro - para a afirmação do verso livre em Portugal.


 A escrita confessional, a atenção a momentos e pequenos nadas do quotidiano, a observação dos mais humildes, muitas vezes contendo implicitamente uma crítica a valores burgueses, a consciência de si mesma objectivizada no confronto com um mundo inóspito, transitarão da poesia para o volume Solidão - Notas do Punho de uma Mulher , uma obra híbrida, que se aproxima do género diarístico pela inclusão de algumas datações genéricas e por um pendor introspectivo que procura desarticular as causas de um mal-estar indefinido - dir-se-ia uma menina e moça da actualidade, obsidiada por uma tristeza omnipresente e encontrando na escrita um instrumento de autoconhecimento -, apoiando-se na memória e no registo da momentaneidade, mas que se aproxima também da novelística pela transfiguração da "experiência de observação do mundo e dos outros" (retratos, cenas) em "matéria de escrita" (cf. MORÃO, Paula - prefácio a Obras de Irene Lisboa , Lisboa, Presença, 1991). Entre a obra poética e publicação destas notas inscreve-se o volume narrativo Começa uma Vida , que, continuado em Voltar Atrás para Quê? , dá sequência, agora, sob a forma de novela autobiográfica, a um discurso do eu que se auto-analisa com lucidez e melancolia, e ao intimismo auto-reflexivo e fragmentário daqueles dois outros registos. A sua bibliografia abrange ainda obras para crianças, como Uma Mão Cheia de Nada Outra de Coisa Nenhuma ou Queres Ouvir? Eu Conto - Histórias Para Maiores e Mais Pequenos se Entreterem , e colectâneas de crónicas, como O Pouco e o Muito, Esta Cidade ou Título Qualquer Serve.




 No que diz respeito ao género cronístico, também aí o "o sujeito aprende sobre si mesmo a partir da observação do mundo, alternando movimentos que o dobram sobre si com outros que, no exterior, lhe fornecem materiais de contraste. [...] As "vidas que me cercam", deste modo, têm um efeito de espelho amplificador da vida da narradora, assim posta na posição axial de quem faz parte de um tempo e de uma cidade." (cf. MORÃO, Paula - prefácio a Obras Completas de Irene Lisboa. Esta Cidade!, vol. V, Lisboa, Presença, 1995, pp. 10-11).

in https://www.livrarialeitura.pt/livro/queres-ouvir-eu-conto-irene-lisboa-o169417888/

domingo, 27 de outubro de 2013

Debaixo de Algum Céu de Nuno Camarneiro

Caros amigos e leitores, 

deixo-vos o texto que escrevi para a apresentação do livro Debaixo de algum céu de Nuno Camarneiro, em Avis, no âmbito d'Escritos & Escritores 2013



Debaixo de Algum Céu é um livro de aparente fácil leitura. Tem uma escrita escorreita, sem grandes floreados linguísticos, sem recurso a palavras muito eruditas ou a ideias que requerem grandes conhecimentos literários ou pensamentos metafísicos intrincados. Lê-se ao correr da palavra e não fica se enredado nas malhas de construções frásicas e ideológicas que nos assaltam ao virar de cada parágrafo. Contudo, esta facilidade é só aparente. A verdadeira complexidade encontra-se no desenho das personagens e na sua humanidade, plena de contradições internas e de escolhas que se questionam mais tarde. É no plano do conhecimento humano e na construção das personagens que reside, quanto a mim, a atração deste livro. Não há heróis, nem vilões, nem mártires. Há apenas pessoas normais que poderiam representar cada um de nós e a nossa demanda pela felicidade, o que quer que essa ideia abstrata consubstancie.

Este livro inicia-se com um preâmbulo do narrador, que desde logo se assume como omnisciente e observador atento da história. Nele, o narrador contextualiza a trama narrativa, apresentando o local – um prédio à beira mar, numa cidade de província com pouco mais de 2.000 habitantes, entre eles pescadores, gente pobre, famílias fugidas das grandes cidades e “alguns homens estranhos”; o tempo – final do ano, sete dias de um ano e o primeiro dia do ano seguinte. É também no preâmbulo que tomamos consciência da linha orientadora da história, aquilo a que os alemães denominam de “Rotfaden” ou fio condutor. Trata-se de uma história, de “portas adentro”, emoldurado por um “Inverno pesado e frio”, durante o qual as personagens procuram calor sob várias formas: nas caldeiras, na lareira, nos corpos dos outros e até nos alimentos. Este romance, a que me atrevo a chamar psicológico, vive da economia de tempo – pouco se sabe do passado ou do futuro – e da economia do espaço – a ação concentra-se verdadeiramente no interior do prédio. O leitor só tem acesso ao exterior através de breves lampejos e pela mão dos homens. São eles que usufruem de maior liberdade de movimentos, enquanto as mulheres são apresentadas como seres enclausurados pelas paredes físicas e pelas suas escolhas, que as limitam enquanto seres humanos.

A história é-nos apresentada dia a dia, alternadamente pela voz do narrador e pela voz de uma das personagens, numa dialética que envolve o leitor na trama como mais uma personagem silenciosa, testemunha emotiva mas impotente face ao desenrolar dos acontecimentos. Testemunha emotiva, porque esta é uma história de emoções – medos, raivas, frustrações, anseios, silêncios, abandonos, encontros e desencontros. Não nos deparamos com meros estereótipos mas com personagens humanizadas que se dividem por apartamentos e que se cruzam nas escadas e na porta do prédio, desconhecedoras das vidas uns dos outros, até que um acaso do destino – uma tempestade que causa um corte de luz – obriga a que se entrecruzem e sejam “mais vizinhos”. Como proclama o autor “há semanas grandes como anos e horas infinitas” e esta é a semana das grandes decisões que vão desde reconciliações, a cortes irrevogáveis, passando por reencontros inusitados.

Tão importante como tudo aquilo que se diz, é aquilo que se cala e que às vezes se pressente e outras vezes não. “ Quando alguém conta um dia ou uma vida está a calar quase tudo, as vidas são imensas e não se podem contar só por palavras”, afirma Nuno Camarneiro.
Vamos então abrir as portas dos apartamentos e espreitar as vidas dos moradores, mas só um pouco para não quebrar a expetativa que se impõe a quem irá ler o livro no futuro.
No rés-do-chão esquerdo vive David, um homem solitário e até um pouco agarofóbico. Tem os olhos permanentemente assentes no monitor do computador e as mãos no teclado. “Vive de inventar gente, pagam-lhe para desenhar pessoas que ainda não existem” para uma empresa chamada PORVIR (nome manifestamente adequado e irónico). O projeto desta empresa é futurista e está relacionado com a inteligência artificial e com uma base de dados de pessoas virtuais que possam ser vendidas ou alugadas daqui a alguns anos.
No rés-do-chão direito habita Marco Moço, um velho lobo-do-mar que se passeia diariamente pela praia em busca daquilo que o mar devolve às areias. Marco recolhe objetos que para alguns seriam considerados apenas lixo e com esses objetos constrói uma máquina na cave do prédio. O seu objetivo é tentar recriar uma espécie de “orquestra”  que reproduza os sons do mar.
No primeiro esquerdo vive uma família composta por Adriano, Constança e uma bebé chamada Diana. Ele é um homem irritado e tenso, sempre atrasado do trabalho. Ela é uma mulher que espera, cansada, carente e possessiva em relação à sua bebé, como uma jovem leoa.
No primeiro direito vive Margarida, uma viúva com um gato, que vive de memórias do tempo em que era casada com um engenheiro holandês que desenhava barcos.
Todo o segundo andar é ocupado por uma única família. Bernardino é subgerente de um banco aguardando ansiosamente a promoção que nunca chega. Manuela é professora de Inglês, resignada com a vida que escolheu. Joana é uma típica adolescente rebelde em busca de novas sensações. Frederico é um miúdo de oito anos, calado, introvertido, perturbado e que gosta de desenhar. A mãe vaticina que ele um dia irá “ser grande como muito mar”.
No 3º esquerdo vive o Padre Daniel, um jovem padre que atravessa uma crise de fé. Acaba por perder a vida de alguém que lhe era próximo mas consegue salvar outra vida e no processo salva-se a si próprio.
No 3º direito não vive ninguém no início da história mas assiste ao regresso de Beatriz, uma mulher atormentada pelo passado que não consegue esquecer e superar.
Todas estas personagens partilham o mesmo espaço – o prédio – mas estão isoladas como livros arrumados em estantes, alinhados mas que não se misturam. “ …afinal o inferno é frio e sem companhia”, desabafa David.
Nos oito dias durante os quais se desenrola a trama narrativa, as personagens mostram-se no seu íntimo: frágeis, seres em permanente demanda, divididas entre a vida que levam e os desejos recalcados daquilo que poderiam ter sido. “Somos tolos e sentimentais, temos arcas cheias de mágoas que não esquecemos e que abrimos a todo o momento para ver se ainda nos doem, e doem sempre” – diz-nos o narrador a certa altura.
O livro termina no primeiro dia de um novo ano com uma tragédia no prédio que reúne todos os moradores. Este acontecimento inesperado sacode o marasmo e leva as personagens a tomar decisões que irão afetar definitivamente as suas vidas futuras. Uns salvam-se, outros não, outros há ainda que salvam outras vidas. Seja de que forma for, todos os moradores foram obrigados a olhar para dentro de si e a enfrentar os seus monstros e medos e a decidir o rumo a dar às suas vidas.
Remato com uma frase do narrador, em jeito de moral da história:
“ Tristezas não pagam dívidas e alegrias não contam histórias.”

Ana Paula Mabrouk
19 de outubro 2013

 



terça-feira, 22 de outubro de 2013

Entrevista à revista online livroseleituras

Caros amigos e leitores,
deixo-vos aqui a  minha entrevista concedida ao site livroseleituras.com. Espero que gostem.

Ana Paula Mabrouk: A caneta é mais forte que do a espada


Livros &Leituras  – Como é que a escrita entrou na sua vida e que papel ocupa?
Ana Paula Mabrouk – Desde muito pequena que demonstrei o gosto pelos livros e pela leitura. Tal facto talvez se deva a um período da minha vida no qual fui criada por uns primos que tinham uma grande biblioteca e um ateliê de pintura. Quando entrei para a escola primária e ia à cidade com a minha mãe ela costumava comprar-me sempre um livro. Estes hábitos precoces de leitura e contato com os livros são essenciais para plantar a semente da escrita. Comecei a escrever quando andava no liceu, especialmente nos anos do secundário, e o apoio e encorajamento de alguns professores foi essencial para continuar a escrever até hoje. No presente não concebo a minha vida sem leitura e escrita. São parte integrante não só daquilo que faço mas daquilo que sou.
L&L – Escreve por inspiração ou objeto de um trabalho apurado e consciente? 
APM – As duas coisas, pois ambas constituem partes distintas do processo de escrita. Primeiro há que ter uma ideia do que se quer escrever e essa ideia surge, muitas vezes, de repente. No meu caso, as ideias partem sempre de um pequeno acontecimento do dia-a-dia que desperta em mim a necessidade imperiosa de contar uma estória. No entanto, esse pequeno evento não pode ser transportado para a escrita como se fosse uma notícia. As ideias têm que ser trabalhadas, desenvolvidas, revistas, reescritas e, algumas vezes, até deitadas fora quando nos apercebemos de que o texto não resulta. O trabalho de um escritor tem muito de inspiração mas também de transpiração, como disse, e bem, o ator Henry Fonda.
L&L – No seu entender, há uma verdadeira comunidade de escritores lusófonos, unidos em torno da Língua Portuguesa, sem fronteiras de nacionalidade?
APM – Não diria tanto. Existe, cada vez mais, uma preocupação em fazer encontros, trocar ideias e expandir os vários tipos de Português existentes no mundo mas não considero que exista já uma verdadeira comunidade lusófona. Durante muitos anos, devido a fatores políticos e geográficos, caminhámos de costas voltadas, sem grande preocupação em reforçar o papel da língua portuguesa no mundo. Por isso penso que existe um longo caminho a percorrer para os escritores dos vários países da Lusofonia até conseguirem formar uma verdadeira comunidade.
L&L – De que forma pode a Literatura reforçar os laços no espaço da Lusofonia?
APM – Diz-se que a caneta é mais forte do que a espada e eu concordo em absoluto. A Literatura tem um papel fundamental na divulgação não só da língua mas também dos fatores de união que enformam uma língua, mesmo com particularidades distintas nos vários países. Qualquer língua acarreta consigo uma forma particular de percecionar e expressar o mundo que nos rodeia e esse vetor de união pode fazer mais pelo estreitamento dos povos do que qualquer imposição vinda de fora. É uma revolução silenciosa mas como é endógena atua no campo das ideias e das mentalidades e lentamente vai deixando um rasto de pertença, ao qual não é possível escapar.
L&L – Enquanto escritor(a), que dificuldades encontra, no que diz respeito à edição e divulgação do seu trabalho?
APM – Imensas. Hoje em dia os editores sofrem também com a crise económica instalada e a esmagadora maioria não quer arriscar em autores novos. Para editar um livro, hoje em dia em Portugal, às vezes é quase preciso pagar ao editor, quando o trabalho de facto pertence ao autor. Para além disso as percentagens concedidas aos autores são irrisórias e, à exceção dos autores que ganham prémios famosos ou têm atrás de si uma máquina de marketing poderosa, como o caso dos rostos das estações televisivas ou da imprensa cor-de-rosa, a quase totalidade dos escritores não conseguem viver do fruto seu trabalho. Daí muitos autores terem que arranjar profissões paralelas que lhes paguem as contas ao fim do mês.
L&L – Que estratégias de incentivo à leitura gostaria de ver implementadas?
APM – Penso que existem já muitas estratégias de incentivo à leitura, principalmente nas escolas. O problema não passa por mais incentivo mas sim por uma revolução de mentalidades. Quem viaja pela Europa constata que os cidadãos de outros países viajam diariamente com livros na mão nos transportes públicos, nas férias, nos passeios dos parques ao fim-de-semana. Aqui em Portugal, quando muito leem-se jornais desportivos nos transportes públicos ou revistas do social. As pessoas queixam-se dos preços de um livro mas nem sequer pensam duas vezes em comprar um telemóvel caríssimo aos seus filhos. Continuamos a ter mentalidade de país de Terceiro Mundo em que o importante é ostentar e viver acima das nossas reais capacidades. Tudo “Para Inglês ver”. O essencial, o substrato, a cultura continuam a ser consideradas coisas supérfluas e o país cada vez mais se vai afundando em gerações ignorantes. Basta ver as nossas taxas de insucesso nos Exames Nacionais das escolas portuguesas. Uma sociedade de consumo em que tudo é descartável e que não promove a meritocracia, não pode ser uma sociedade evoluída e culta.
L&L – Acha que o uso das novas tecnologias desvaloriza os encontros com escritores e outras atividades presenciais, nomeadamente, o contato com os leitores?
APM – Não, de todo. Ao contrário do que se pensava as novas tecnologias não vieram substituir o livro em suporte de papel. Também os encontros presenciais não poderão ser substituídos pelos encontros virtuais. Cada um desempenha papéis diferentes e que não se excluem. Muito pelo contrário. Penso que as novas tecnologias servem para aproximar escritores de países diferentes e potenciam encontros presenciais posteriores. Tal como nas redes sociais, mais cedo ou mais tarde, as pessoas que habitualmente se falam e trocam ideias querem conhecer-se “em carne e osso”.
L&L – Tem preferência pelo livro em suporte de papel ou crê que os suportes digitais são o futuro?
APM – Penso que as duas formas de leitura irão continuar a existir paralelamente, sem se autoexcluírem. Haverá sempre quem prefira o contato físico com o objeto livro (como é o meu caso) e quem prefira ler no Tablet ou no IPad. Eu gosto particularmente do cheiro, do toque e de escrever nas margens dos livros as minhas impressões e ideias. No entanto, não desdenho quem prefira ler eletronicamente. São formas diferentes de estar na vida.
L&L – Para os leitores que estiverem a pensar em ler um livro seu, pela primeira vez, qual aconselha e porquê?
APM – Depende do tipo de leitura que mais gostarem. Com escrevo vários tipos de literatura, a escolha é variada. Para quem goste de contos, aconselho o “Alfabeto no feminino”; para quem gosta de poesia, o meu último livro “Paixão em 5 atos”; para quem goste de crónicas e de pensar filosoficamente sobre a vida, aconselho “Crónicas da Vida e da Arte”.
L&L – Que projetos literários tem para o futuro?
APM – Estou neste momento a escrever um novo livro de contos e tenho uma ideia para um romance que quero escrever nos próximos anos.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Escritos & Escritores 2013

Caros amigos e leitores,
deixo-vos com o cartaz e o programa do encontro Escritos & Escritores 2013, em Avis.




                                       PROGRAMA
                                   
Sexta-Feira, 18 de Outubro
14:00 H Escola Mestre de Avis: Escritora convidada SUSANA NEVES
                Escola Profissional Abreu Callado (Benavila) : Escritora convidada CRISTINA CARVALHO
21:30 H Tertúlia “Momentos de Poesia” –  DEOLINDA MILHANO, ERMELINDA FERNANDES E CECÍLIA CARVALHO
               Local: Taberna do Paulo, Alcórrego

Sábado, 19 de Outubro
09:30 H | ABERTURA  |  Ler o que escrevi!   -  CAROLINA OLIVEIRA

10:00 H | MESA 1 | Escrita em Baixo Relevo
PAULO ASSIM | EDUARDO MAXIMINO | JOAQUIM BARÃO RATO

11:15 H | MESA 2 | Diversidade na Escrita I
SUSANA NEVES | ANTONIETA FÉLIX

14:30 H | MESA 3 | Diversidade na Escrita II
CRISTINA CARVALHO | JOAQUIM PESSOA
                                                                Maria da Conceição Andrade e Maria Fernanda Navarro

15:45 H | MESA 4 | “As Bibliotecas e a promoção da leitura”

FÁTIMA DIAS | LUÍSA ALVIM | MARIA DE JOSÉ VITORINO

17:15 H | MESA 5 | Diversidade na Escrita III
NUNO CAMARNEIRO | JOSÉ BERNARDES
                                                               Carlos Lopes
            
21:00 H | AUDITÓRIO MUNICIPAL DE AVIS
         CONCERTO MUSICAL “3 DE COPAS”
Domingo, 20 de Outubro                                                                     
10:30 H |   Avis Inspira

APOIOS: MUNICÍPIO DE AVIS; JUNTA DE FREGUESIA DE AVIS; CONVERSA TROCADA, COMUNICAÇÃO & IMAGEM, LDA.

COLABORAÇÃO: AGRUPAMENTOS DE ESCOLA DE AVIS; ESCOLA PROFISSIONAL ABREU CALLADO;