pediram-me desta vez para escrever uma crónica sobre Escola, Emprego e Profissões. Esta não era fácil!
Inspirei-me em Sérgio Godinho e foi isto que saiu. Espero que gostem.
Crónica: A força das palavras
“Arranja-me
um emprego” por Ana Paula Amaro
(…)
“Se eu mandasse neles
os teus trabalhadores
seriam uns amores
greves era só
das seis e meia às sete
em frente a um cassetete
primeiro de Maio
só de quinze em quinze anos
feriado em Abril
só no dia dos enganos
e reivindicações
quanto baste ma non troppo
anda, bebe mais um copo
arranja-me um emprego
os teus trabalhadores
seriam uns amores
greves era só
das seis e meia às sete
em frente a um cassetete
primeiro de Maio
só de quinze em quinze anos
feriado em Abril
só no dia dos enganos
e reivindicações
quanto baste ma non troppo
anda, bebe mais um copo
arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego
pode ser na tua empresa
concerteza
que eu dava conta do recado
e para ti era um sossego”
pode ser na tua empresa
concerteza
que eu dava conta do recado
e para ti era um sossego”
Sérgio Godinho
Quando me pediram para escrever uma crónica cujos temas eram Escola, Emprego,
Profissões, a primeira coisa que me veio à mente foi esta canção de Sérgio
Godinho. Numa época cujos telejornais nos entram pela casa dentro com palavras
como crise, recessão, desemprego e classificações de Portugal como “lixo” e o
governo insiste sempre na mesma solução – cortar direitos aos trabalhadores do
estado, tendo sempre o cuidado de excluir aqueles que “prestaram um serviço de
reconhecido mérito”, leia-se vulgarmente os políticos – apetece ecoar as
palavras deste sábio músico. Aliás os músicos, desde os Deolinda com a canção “Parva
que eu sou” até ao Boss AC com “É sexta feira” têm sabido como ninguém espelhar
a situação da juventude portuguesa e a sua relação com o emprego. Neste país,
em tudo cinzento, insiste-se em deprimir as massas para, mais facilmente, as
poder moldar às linhas-mestre da governação. Ou deveria dizer: desgovernação?
Toda a gente sabe que um dos princípios dos regimes ditatoriais é manter os
seus habitantes na máxima ignorância possível para que eles não tenham a
capacidade de se sublevar e de agir contra quem os oprime. A ignorância é a mãe
de todos os vícios. E infelizmente neste meu país o que mais se assiste é à ascensão
de pessoas ignorantes através da famosa cunha, do chico-espertismo e de
esquemas “manhosos” para contornar a exigência, o rigor e o profissionalismo.
Atente-se no caso dos nossos políticos e dos seus cursos da treta.
A educação de base, com rigor e exigência, é o único garante de solidez
numa formação que sempre dará frutos. Na atual conjuntura económica e de crise
de valores humanitários e éticos pode parecer uma perda de tempo investir na
educação mas ela é o único garante de um verdadeiro sucesso consolidado. Quem
for excelente naquilo que se propuser fazer, encontrará sempre um lugar. Pode
demorar, pode não ser neste país conformado ao fado do “coitadinho” mas quem
procurar com afinco e determinação sempre encontrará. Cabe-nos a nós
professores plantar as sementes e ter a sabedoria necessária para criar as
condições para o seu desenvolvimento um dia. Ser professor, nestes tempos
conturbados, significa educar gente corajosa, inquieta, capaz de pensar por si
própria, capaz de agir em causas que valham realmente a pena. Entristece-me
quando vejo que as energias de um povo se canalizam em massa quando é preciso
votar para um programa de televisão que promove gente burra e mal educada ou para
receber um autocarro de uma equipa de futebol com cânticos gastos e very lights mas essas mesmas pessoas são
incapazes de se mexerem para arranjar um emprego ou lutarem civicamente pelos
direitos e liberdades básicas consignadas na Constituição Portuguesa. Continuamos
a promover uma política de “yes men” dispostos a aguentar todas as imposições e
indignidades sem contestar abertamente nem usar dos meios ao seu dispor para
expulsar aqueles que impõem regras às quais são os primeiros a fugir.
Portugueses! Portuguesas! Nas palavras do nosso hino “Às armas! Às armas!”
E essas armas são a educação como base de uma sociedade evoluída, capaz de se
regenerar e de vencer batalhas difíceis com orgulho no nosso passado mas
sobretudo no futuro que estamos, todos os dias, a construir. Fora com o
pessimismo e o “desfado” nacional. Estamos aqui para vencer e, se investirmos
naquilo que vale realmente a pena, seremos vencedores inquestionáveis. Sim,
podemos!
“Tudo está na educação. O pêssego dantes era uma amêndoa amarga; a
couve-flor não é mais do que uma couve que andou na universidade” Mark Twain
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