terça-feira, 22 de outubro de 2013

Entrevista à revista online livroseleituras

Caros amigos e leitores,
deixo-vos aqui a  minha entrevista concedida ao site livroseleituras.com. Espero que gostem.

Ana Paula Mabrouk: A caneta é mais forte que do a espada


Livros &Leituras  – Como é que a escrita entrou na sua vida e que papel ocupa?
Ana Paula Mabrouk – Desde muito pequena que demonstrei o gosto pelos livros e pela leitura. Tal facto talvez se deva a um período da minha vida no qual fui criada por uns primos que tinham uma grande biblioteca e um ateliê de pintura. Quando entrei para a escola primária e ia à cidade com a minha mãe ela costumava comprar-me sempre um livro. Estes hábitos precoces de leitura e contato com os livros são essenciais para plantar a semente da escrita. Comecei a escrever quando andava no liceu, especialmente nos anos do secundário, e o apoio e encorajamento de alguns professores foi essencial para continuar a escrever até hoje. No presente não concebo a minha vida sem leitura e escrita. São parte integrante não só daquilo que faço mas daquilo que sou.
L&L – Escreve por inspiração ou objeto de um trabalho apurado e consciente? 
APM – As duas coisas, pois ambas constituem partes distintas do processo de escrita. Primeiro há que ter uma ideia do que se quer escrever e essa ideia surge, muitas vezes, de repente. No meu caso, as ideias partem sempre de um pequeno acontecimento do dia-a-dia que desperta em mim a necessidade imperiosa de contar uma estória. No entanto, esse pequeno evento não pode ser transportado para a escrita como se fosse uma notícia. As ideias têm que ser trabalhadas, desenvolvidas, revistas, reescritas e, algumas vezes, até deitadas fora quando nos apercebemos de que o texto não resulta. O trabalho de um escritor tem muito de inspiração mas também de transpiração, como disse, e bem, o ator Henry Fonda.
L&L – No seu entender, há uma verdadeira comunidade de escritores lusófonos, unidos em torno da Língua Portuguesa, sem fronteiras de nacionalidade?
APM – Não diria tanto. Existe, cada vez mais, uma preocupação em fazer encontros, trocar ideias e expandir os vários tipos de Português existentes no mundo mas não considero que exista já uma verdadeira comunidade lusófona. Durante muitos anos, devido a fatores políticos e geográficos, caminhámos de costas voltadas, sem grande preocupação em reforçar o papel da língua portuguesa no mundo. Por isso penso que existe um longo caminho a percorrer para os escritores dos vários países da Lusofonia até conseguirem formar uma verdadeira comunidade.
L&L – De que forma pode a Literatura reforçar os laços no espaço da Lusofonia?
APM – Diz-se que a caneta é mais forte do que a espada e eu concordo em absoluto. A Literatura tem um papel fundamental na divulgação não só da língua mas também dos fatores de união que enformam uma língua, mesmo com particularidades distintas nos vários países. Qualquer língua acarreta consigo uma forma particular de percecionar e expressar o mundo que nos rodeia e esse vetor de união pode fazer mais pelo estreitamento dos povos do que qualquer imposição vinda de fora. É uma revolução silenciosa mas como é endógena atua no campo das ideias e das mentalidades e lentamente vai deixando um rasto de pertença, ao qual não é possível escapar.
L&L – Enquanto escritor(a), que dificuldades encontra, no que diz respeito à edição e divulgação do seu trabalho?
APM – Imensas. Hoje em dia os editores sofrem também com a crise económica instalada e a esmagadora maioria não quer arriscar em autores novos. Para editar um livro, hoje em dia em Portugal, às vezes é quase preciso pagar ao editor, quando o trabalho de facto pertence ao autor. Para além disso as percentagens concedidas aos autores são irrisórias e, à exceção dos autores que ganham prémios famosos ou têm atrás de si uma máquina de marketing poderosa, como o caso dos rostos das estações televisivas ou da imprensa cor-de-rosa, a quase totalidade dos escritores não conseguem viver do fruto seu trabalho. Daí muitos autores terem que arranjar profissões paralelas que lhes paguem as contas ao fim do mês.
L&L – Que estratégias de incentivo à leitura gostaria de ver implementadas?
APM – Penso que existem já muitas estratégias de incentivo à leitura, principalmente nas escolas. O problema não passa por mais incentivo mas sim por uma revolução de mentalidades. Quem viaja pela Europa constata que os cidadãos de outros países viajam diariamente com livros na mão nos transportes públicos, nas férias, nos passeios dos parques ao fim-de-semana. Aqui em Portugal, quando muito leem-se jornais desportivos nos transportes públicos ou revistas do social. As pessoas queixam-se dos preços de um livro mas nem sequer pensam duas vezes em comprar um telemóvel caríssimo aos seus filhos. Continuamos a ter mentalidade de país de Terceiro Mundo em que o importante é ostentar e viver acima das nossas reais capacidades. Tudo “Para Inglês ver”. O essencial, o substrato, a cultura continuam a ser consideradas coisas supérfluas e o país cada vez mais se vai afundando em gerações ignorantes. Basta ver as nossas taxas de insucesso nos Exames Nacionais das escolas portuguesas. Uma sociedade de consumo em que tudo é descartável e que não promove a meritocracia, não pode ser uma sociedade evoluída e culta.
L&L – Acha que o uso das novas tecnologias desvaloriza os encontros com escritores e outras atividades presenciais, nomeadamente, o contato com os leitores?
APM – Não, de todo. Ao contrário do que se pensava as novas tecnologias não vieram substituir o livro em suporte de papel. Também os encontros presenciais não poderão ser substituídos pelos encontros virtuais. Cada um desempenha papéis diferentes e que não se excluem. Muito pelo contrário. Penso que as novas tecnologias servem para aproximar escritores de países diferentes e potenciam encontros presenciais posteriores. Tal como nas redes sociais, mais cedo ou mais tarde, as pessoas que habitualmente se falam e trocam ideias querem conhecer-se “em carne e osso”.
L&L – Tem preferência pelo livro em suporte de papel ou crê que os suportes digitais são o futuro?
APM – Penso que as duas formas de leitura irão continuar a existir paralelamente, sem se autoexcluírem. Haverá sempre quem prefira o contato físico com o objeto livro (como é o meu caso) e quem prefira ler no Tablet ou no IPad. Eu gosto particularmente do cheiro, do toque e de escrever nas margens dos livros as minhas impressões e ideias. No entanto, não desdenho quem prefira ler eletronicamente. São formas diferentes de estar na vida.
L&L – Para os leitores que estiverem a pensar em ler um livro seu, pela primeira vez, qual aconselha e porquê?
APM – Depende do tipo de leitura que mais gostarem. Com escrevo vários tipos de literatura, a escolha é variada. Para quem goste de contos, aconselho o “Alfabeto no feminino”; para quem gosta de poesia, o meu último livro “Paixão em 5 atos”; para quem goste de crónicas e de pensar filosoficamente sobre a vida, aconselho “Crónicas da Vida e da Arte”.
L&L – Que projetos literários tem para o futuro?
APM – Estou neste momento a escrever um novo livro de contos e tenho uma ideia para um romance que quero escrever nos próximos anos.

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