morreu Fina D'Armada. Para muitos este nome não dirá muito, o que é uma pena. Tive o prazer de a conhecer um dia num encontro da Bookcrossing e fiquei conquistada pela sua frontalidade, clareza de pensamento e inteligência. Deixo aqui a sua biografia e um dos seus últimos poemas. RIP.
A historiadora Fina d'Armada, de 68 anos, morreu hoje de manhã na sua residência, em Rio Tinto, concelho de Gondomar, onde vivia desde 1981, disse à Lusa fonte da Junta de Freguesia.
O corpo da historiadora está a ser velado na igreja matriz de Rio Tinto, de onde sairá às 22h de hoje para Vila Praia de Âncora, realizando-se o funeral no sábado, disse a mesma fonte.
Fina d'Armada é o pseudónimo literário de Josefina Teresa Fernandes Moreira, natural da Quinta d'Armada, na freguesia de Riba de Âncora, no concelho de Caminha.
Historiadora, poetisa e cronista, Fina d'Armada é autora de cerca de 12 títulos e coautora de 39 obras. Para se definir a si mesma, usava uma frase da investigadora Carolina Michaellis de Vasconcelos: "Eu não tenho biografia, passei a vida a estudar". Numa entrevista à Lusa, declarou: "O meu curriculum é apenas o produto dos meus estudos".
Em 2003 concluiu o mestrado em Estudos sobre as Mulheres, na Universidade Aberta, com uma tese que foi publicada sob o título "Mulheres Navegantes no Tempo de Vasco da Gama" (2006), que lhe valeu o Prémio Mulher Investigação Carolina Michaelis de Vasconcelos.
A autora está incluída na "Antologia de Poetas do Alto Minho", de Laureano Santos, no "Dicionário de Mulheres Rebeldes", de Ana Barradas, no "Dicionário Internacional de Arte e Literatura" e na obra "Letras de Fronteira do Val do Miño Transfonteirizo", estes dois últimos editados em Espanha.
Fina d'Armada colaborou com nomes como Natália Correia e Albano Magalhães, com os quais, entre outras iniciativas, escreveu a "Monografia da Vila de Fânzeres".
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/morreu-fina-darmada=f859820#ixzz2w8EKZBcg
Metades de Vida
Estou
prostrada entre brancos dum hospital
e neve cai na
cidade onde rara, raramente cai.
Metade de
mim é corpo doente, operado.
A outra
metade é confusão, atordoamento.
Metade de mim é véspera do nada,
lamentando o perdido, o que não
fiz.
A outra metade vagueia entre
imagens
da minha gente, da minha casa,
dum tempo feliz.
Metade de mim é preocupação, é
dor, é silêncio,
é medo, é sofrimento, é queixume…
A outra metade é força, energia,
vontade,
um querer de onda brava, vigor de
lume.
A neve cai para lá da vidraça
na cidade onde rara, raramente
cai.
Metade de mim está presa. É
tubos, é drenos,
é agulhas, é remédios, é batas
brancas.
A outra metade é asa, é
liberdade.
Metade de mim é lágrima,
a outra metade esperança.
Metade de mim é oração, pensar no
além, na eternidade.
A outra quer voltar aos milhos, aos
pinhais, correr sem idade.
Esforço-me para sair destes
brancos, sentir a neve.
Para que metade de mim seja centelha
na humanidade
e a outra metade na humanidade centelha.
Para que metade de mim seja pedacinho
dum todo
e a outra metade do todo um
pedacinho.
Ó saber humano, ó mãos da
medicina,
ó Criador, ó forças benfazejas do
universo!
Fazei que metade de mim seja vida
e a outra metade também.
E fazei das metades fundidas, em
união:
fonte, semente, recomeço,
madrugada
de uma renovada obra da criação.
(9 de Janeiro de 2009, quando nevou na cidade do Porto,
estando eu no IPO).
(São 33 versos, número de morte e ressurreição)
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