quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Essas mulheres

Essas mulheres
Toulon, 30-07-2007

Resumir a vida dos brasileiros que vivem em Portugal às mulheres de mini-saias e tops descascados é muito limitador, não acha? No entanto, percebo, perfeitamente, o entusiasmo masculino por umas boas pernas bronzeadas, um decote generoso e um bum-bum firme.
Afirma o douto cronista que o conceito de mulher bonita, anterior ao boom das brasileiras, era tão raro que quase poderia ser comparável à aparição de um ser de contornos mitológicos. Que exagero!!!
É preciso não confundir mulheres bonitas com mulheres desfrutáveis. E esta afirmação não encerra em si a famosa dor de cotovelo ou alguma insinuação racista. Pessoalmente, não sofro do estigma de alguns portugueses assustados com a invasão dos milhares de imigrantes, de todas as cores e feitios. Mais do que a minha palavra, tenho a minha certidão de casamento para o atestar.
Não afirmo que todas as brasileiras são corpos exibicionistas, desprovidos de intelecto. Muitas são muito mais espertas do que as portuguesas. Olá se são! Possuem a esperteza de quem ziguezagueia pela vida, aprendendo a tirar partido do pouco que ela lhes distribuiu à partida. Quem tem pouco a perder, não fica arraigado a convenções exteriores e externas.
Conheço muitas brasileiras em Portugal. Algumas delas são mulheres trabalhadoras, mães preocupadas e boas profissionais. Admito, porém, que possuem características que as distinguem das portuguesas: a alegria de viver, o cuidado que põem na sua apresentação física e o à-vontade com que lidam com as questões do corpo e da sexualidade. Será do calor? Da ausência de uma família controladora e castradora? Ou dos homens brasileiros?
Aqui chegados, considero que o cronista enferma de uma visão muito parcial da realidade. Está desculpado, pois os homens não gostam de lentes bifocais. Têm medo do constante reajustar da realidade e da dupla perspectiva do que se lhes depara em frente do seu órgão mais proeminente: o nariz, é claro!
É que aquela azáfama de subir as saias, descer os decotes e depilar o buço (não é bigode, senhor!), não se deve ao medo da concorrência feminina. Então não percebeu que as mulheres portuguesas «injustamente perdidas e escondidas na floresta amazónica da frigidez secular», assim o eram porque os homens portugueses, barrigudos, carecas e de farto bigode (eles sim!), não tinham mesmo graça nenhuma?!
Também eu digo: obrigado Brasil! No entanto, a minha história, cinco séculos depois de Cabral, é ligeiramente diferente. É a história de como os homens brasileiros, bronzeados, musculados e com o ritmo afro-americano no corpo e a sacanagem no olhar, descobriram Portugal. Então, as mulheres portuguesas, com motivos válidos a olhos vistos, despiram a timidez e decidiram provar umas caipirinhas refrescantes. Da boca satisfeita e do corpo saciado saiu então a expressão: «Esses homens!»

Uma das duas crónicas premiadas com o 3º lugar no XXVI Concurso Internacional Literário das EDições AG no Brasil e publicado na Antologia Travessias

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