Mais velha do que a vida sou eu
Não espero nada da vida.
Ela já não contem nada que m’interesse.
Sinto-me mais velha e alquebrada,
Tenho mais rugas e xailes negros,
Mais aventais e chinelos coçados
Do que ela.
Olho-a nos olhos doridos
Nos quais ela passou demasiado depressa
E deixou um gosto amargo,
Um gosto que não sai.
Sim.
Mais velha do que a vida sou eu.
Eu, que a vida não quis agarrar.
Tocou ao de leve ao passar apressada
E retraiu-se arrepiada com o que sentiu.
Não mais voltou a olhar
Na estrada comprida que seguiu.
Correu.
Virou a esquina
E nem um soslaio furtivo.
Só abandono.
Por vingança peguei no dicionário
E assassinei-a a negro.
poema 27 da Antologia Em Carne Viva
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