quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Crónica: Em jeito de resposta ao conto Ana Paula, A Professora

Crónica: Em jeito de resposta ao conto Ana Paula, A Professora
(Uma espécie de conto quase plagiado)


Tenho um fã! Extraordinário! Tanto mais que é um fã do sexo masculino, fascinado pelo meu livro Alfabeto no Feminino. Eu já andava desconfiada que os homens liam, à socapa, o meu livro, mas eram retraídos demais para o comentar. Este não só o leu, como escreveu e me dedicou um conto com base no livro! Para além da palavra «extraordinário», não me ocorre mais nenhuma, neste momento!
Perante tal demonstração de apreço, o mínimo que poderia fazer era retorquir na mesma moeda – a escrita. Ora então aqui vai, não com outro conto, mas com uma crónica, o meu género preferido de prosa.

Caro amigo Fernando,
Com que então uma surpresa? Bem o pode dizer… Não esperava, de modo algum, algo tão criativo. Fiquei sensibilizada com o presente, tanto mais que ainda não é Natal, nem o meu aniversário (real ou o do conto), nem a data da minha reforma…
No entanto, tenho alguns reparos a fazer ao seu conto, reparos esses que devem ser lidos com atenção e sentido de humor.

Em primeiro lugar, fez desta Ana Paula uma quase Madre Teresa de Calcutá!
Menos, amigo, muito menos… Se é verdade que me entrego aos meus pestinhas até mais do que devia, em detrimento da vida pessoal, familiar ou literária, também não é menos verdade que penso na reforma como uma libertação para outro tipo de voos.
Em segundo lugar, fiz, de facto, parte ou colaboro ainda com várias organizações de cariz social ou associativo. Penso que a nossa passagem neste mundo deve deixar alguma espécie de marca que valha a pena recordar no futuro. Uma espécie de legado humanista que dignifique a pertença à espécie humana.
Quanto ao facto de ser adorada por toda a gente – alto e pára o andor que a procissão ainda vai no adro… É um erro comum a muita gente que me conhece pela primeira vez. Depressa ficam curados…Outros há (poucos) que ficam agarrados (coitadinhos) … É que a Ana Paula, escritora ou professora, é mulher sem papas na língua, característica germânica, pouco apreciada no Portugal dos Pequeninos. A sua lucidez incomoda muita gente.

Mas vamos ao conto propriamente dito. Existem erros imperdoáveis na construção do enredo!!! Vamos àquela que considero a primeira secção de erros de apreensão da realidade.
Professores homenageados neste país pelas qualidades de ensino e dedicação aos seus alunos?! Só numa fábula de Esopo… Todos os outros só aparecem nas reportagens da TVI pelas agressões aos alunos ou pela preguiça de não quererem ser avaliados.
Directores distritais (diz-se regionais) de Educação presentes em homenagens a professores?! Só em livros de ficção científica, mas atenção: passados noutro sistema solar a muitos muitos anos-luz da Terra.
Igreja repleta de gente?! Então não sabe que os divorciados estão excomungados pela Santa Igreja Católica? Não há cá desses hereges na amantíssima Casa do Senhor. Nem que seja uma professora benemérita. Não há cá perdão para ninguém. E pronto!
Missas em latim?! Ora os fiéis já são tão poucos! Era vê-los fugir a sete pés. Isto, salvo os casos dos coxos, é claro!
Gente à cunha, de pé, no Salão da Casa do Povo para homenagear uma provecta senhora de 80 anos? Só se houvesse um plasma gigante a transmitir jogos da Liga dos Campeões. Com direito a cervejas e tremoços… Amendoins também faziam o mesmo efeito.
Pais agradecidos pelo trabalho efectuado em prol dos seus filhos?! Então, o amigo não vê os telejornais? Desperdiça assim, gratuitamente, o insulto fácil e a linguagem vernácula, sem mais nem aquela? Olhe que os pais ainda vão chamar o Miguel Sousa Tavares para os defender, ao vivo e a cores, no jornal nacional, em prime time. Olha-me só o descaramento deste! Até parece que os professores são alguns «enjinhos»!

Finda esta secção, vamos à secção que demonstra que esta professora Ana Paula, afinal, não era assim uma grande flor que se cheirasse… Fazendo o balanço das vidas das 26 alunas presentes na homenagem, concluímos que:
3 estão divorciadas;
3 estão mal casadas;
3 estão «solteironas»
1 vive da pensão de viuvez do marido;
1 casou com «um gajo velho a dar para o rico»
apenas 2 estão contentes com os seus maridos.
Esta professora não era lá grande conselheira matrimonial, pois não? Safa-se apenas a do «gajo velho a dar para o rico». Parabéns, querida!

Terceira secção: a dos casos «memo memo mauzinhos»:
1 é reclusa;
1 suicidou-se;
1 deixou de estudar;
1 é depressiva vitalícia;
2 são gordas e disformes
3 são escritoras!;
1 é professora (coitada!)
Mas será que esta «stora» não ensinou nada às suas alunas? Esta lista é um chorrilho de desgraças!

Então, depois destes belos exemplos, o meu amigo ainda pede um livro com com as estórias de vinte e seis alunos do sexo masculino? Aí é que a hecatombe não tinha mais remédio.

Como boa professora que sou, não posso deixar de terminar esta apreciação com uma breve nota de agrado, o que em linguagem profissional se apelida de reforço positivo. Gostei particularmente daquele trecho em que o meu amigo compara a tarde de homenagem à tarde de circo dos pequenos irmãos Catitas. Insuperável!

Continue a escrever, caro amigo, mas para a próxima, escolha alguém que valha mesmo a pena: um Zé das Barcas ou as meninas da Ribeira do Sado.

P.S.: Obrigada pela homenagem e votos de muitos livros.

A sua autora preferida (como se depois desta análise, houvesse alguma réstia de esperança para mim…)

Ana Paula Mabrouk
18 de Novembro de 2009

2 comentários:

  1. A minha querida amiga é insuperável...Muito me ri com a sua apreciação à espécie de conto que lhe enviei.Vou imprimi-lo e guardá-lo junto ao texto/conto.
    Mas atenção : Anas Paulas há muitas...e a história passa-se nos vindouros anos de 2048, mais precisamente a 27 de Janeiro de 2048.
    Fico à espera que nesse dia me contacte para ver se tudo não é muito mais cor-de-rosa...
    Amiga, você é que é o MÁXIMO!!!!!
    UM ABRAÇO
    FERNANDO MÁXIMO!

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  2. Caro amigo,

    ainda bem que consigo fazer rir quem comigo se relaciona. Se não o que seria da vida de todas as Anas Paulas professoras deste país?
    Quanto ao ano de 2048 e à cor rosa, deixarei as visões tecnicolor para as Pipocas deste mundo, doces ou caramelizadas.

    Até ao nosso reeencontro que será certamente ainda nesta década.

    Ana Mabrouk

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