sábado, 5 de setembro de 2009

Poemas publicados no jornal Notícias de Colmeias

Jornal das colmeias


Noite Mondego

Neblina escuridão em preto aquoso
Bruxulenta lua esbranquiçada. Saudoso
Rumor d’águas em quieto estagnado…
Ilhas d’areia cinza em parado
Negro reflexamente brilhante
Lembrança mistério d’Atlante…
Noite sem fim, muda noite!
Restos de Sherazade, Alibábá…Noite
Mondego em verde-escuro apagado
Sem luz….a vida num brado
Silêncio entornado. Desencanto
Choroso em lamentoso pranto.

Outono
Eis aqui agora a Hora
Tristeza lenta da solidão
Chove lágrimas que em vão…
Ai agora soluça, não chora!
Sofrimento atroz, dor que dilacera
Sonhos rasgados deitados ao vento
Angústia lenta sim, sofrimento.
Felicidade, palavra d’outra era.

No presente da desgastante espera
Só ficou o gemido dum lamento
Na paisagem árida ao vento
No Outono outrora Primavera.
É o cinza negro q’aqui mora
No verde que cobria o chão
Folha caída dum ancestral Verão
Que morreu antes de chegada a Hora.


Pedras soltas

Há pedra soltas
Na poeira dos caminhos.
Jogadas, pontapeadas, largadas.
Soltas pedras
Entre árvores intercaladas
Resistindo ao tempo
Mas ninguém olha.

Há sonhos soltos
Na encruzilhada da vida.
Jogados, pontapeados, largados.
Sonhos soltos
Entre mágoas intercalados
Resistindo ao medo.
Mas ninguém olha.

Há pedras-sonhos soltos
Na poeira da vida.
Jogados, pontapeados, largados.
Soltos sonhos-pedras
Entre árvores e mágoas intercaladas
Resistindo ao tempo
Resistindo ao medo.
Mas ninguém olha.


Castelos de sonhos

Castelos de cartas erguem-se leves ao alto
Castelos de ases, reis e rainhas
Castelos de sorte
Castelos de duques, quinas e senas
Castelos de azar
Castelos da vida tombando a um toque de mão.

Castelos d’areia erguem-se soltos ao alto
Castelos de fina areia, branca e dispersa
Castelos de conchas, algas e espuma
Castelos de vida esboroando-se
Silenciosos
Altivos, na rebentação do dia.

Castelos de sonhos erguem-se loucos ao alto
Castelos no ar, de sol e luar
Castelos de nuvens com pó de estrelas
Castelos de vida, escoando maresia
Desaguando
Na brisa diáfana do nascer matinal.


(edição nº 115 de 5 de Julho de 2009)

http://www.noticiasdecolmeias.com/

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