quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Poemas premiados no Brasil

Prosa e poesia

A prosa é a esfera das coisas já ditas
Da política, das guerras, da TV dos jornais
A prosa é a esfera das coisas banais.
É dia de sol na estação que se adivinha
É porto seguro na maré da tardinha
É conta corrente, é moeda fluente
É lucro no riso das coisas desfeitas
A prosa é a esfera das coisas já feitas.
Sólida construção sem rasura nem história
B-á bá que o tempo aprisionou na memória.

A poesia é a esfera das coisas por dizer
Das que entrevêem e se entreleem
Que se sonham e mal se vêem.
Dos segredos aflorados,
Dos mistérios não desvendados
A poesia é a esfera das coisas dos magos
É sopro de vento, areia entre os dedos
Flauta d’Orfeu, serei encantada
Musa de Apolo, do mar os medos
Loucuras esquecidas, missa cantada.
A poesia é a esfera das coisas por inventar.
A brisa que sopra, as luas por achar.


Estes poemas foram premiados na antologia Rosa dos Ventos, das Edições AG e o livro chegará no próximo mês a Portugal


Rosa dos ventos


Tenho saudades
Do que nunca fui
Saudades do que jamais serei.
Tenho saudades simplesmente!
Ah, como tenho saudades…

Saudades da chuva prometida
Da terra de leite e mel.
Do Mar Vermelho da aventura
Das tábuas da lei eterna
Cordeiro pascal da vida.

Saudades do cheiro a canela
Das Índias distantes da conquista
Rotas da seda do Oriente
Das brumas da selva escondida
De Vieira, dos peixes amigo.

Saudades da locomotiva a vapor
Aquecendo longos dias de trabalho
Ideias brilhantes, sons por um fio
Mulheres ao volante buzinando
De Ford, Irmãos Wright ao vento.

Saudades de Casablanca
Sedutores de chapéu e de enigmas
Planos gorados, amores passados
Ecrãs a branco e negro
De divas de olhos d´água.

Saudades da chuva da infância
Que lavava as dores do corpo
E enxaguava as mágoas do sentir
Dos dias longos de Inverno
Da lareira na alma a crepitar.

Saudades das viagens espaciais
Do planeta azul ao longe
Das nuvens de algodão doce
Da velocidade da luz interestelar
E da miragem de novos mundos.

Saudades de ser Cleópatra e geisha
Curie cintilante, Hepburn hesitante
Saudades da criança esperançada
Que sonhava outras vidas
E viveu sempre acordada.

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