segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Ofélia

Este é mais um conto do meu livro Alfabeto no Feminino e foi o primeiro a ser escrito no longíquo ano de 1985 para ser publicado vinte mais tarde. É o exemplo de que nunca se deve dizer nunca


OFÉLIA

AO FERNANDO

«Todas as cartas de amor são ridículas.»

E como são ridículas !....

Ridículas porque nos mostram Íbis frágil

do distante Egipto que chora perto.



De repente surge a Pessoa

O Nininho carente, sozinho e sem máscaras.

Onde as puseste?

Ah! Fechaste-as à chave no armário da intelectualidade.

Pouca sorte. O maroto do Álvaro de Campos fugiu pelo buraco da fechadura.

Devias ter-lhe dado umas palmadas.

Sim, porque isso não se faz!



Onde vais? À Boca do Inferno ?

Mas ela continua impossivelmente na mesma: direita.

Não vás para o manicómio! Não quero que vás!

Olha a Ofélia. Anda vá, dá-lhe um chocolate.

Tu sabes que ela gosta.



Passeia, engraxa os sapatos e faz comentários ao teu talassismo.

Que falte a luz e beijos apaixonados, muitos

Rompam do teu chapéu preto como passos de mágica

Transformando a intelectualidade num coelho

que se esqueceu no fundo da cartola.



Por que rejeitas o amor que não quiseste ?

Esqueceste aquele vão de escada ?

Já não vês a janela do sonho ?

E a Mensagem vazia, por que lha enviaste?

Por que queres ser sozinho?



Toda a vida a Ofélia esperou.

Tu ultrapassaste finalmente a barreira do real .

A sua espera já não tem sentido.

E dessa história ficou uma janela vazia

Já sem sonhos.

2 comentários:

  1. gostei muito desta interpelação poética ao "nosso" Pessoa.

    abraço.

    ResponderEliminar
  2. Obrigada MM.

    Espero vê-la em breve ao vivo e a cores.

    Um beijo
    Ana Mabrouk

    ResponderEliminar