Este é mais um conto do meu livro Alfabeto no Feminino e foi o primeiro a ser escrito no longíquo ano de 1985 para ser publicado vinte mais tarde. É o exemplo de que nunca se deve dizer nunca
OFÉLIA
AO FERNANDO
«Todas as cartas de amor são ridículas.»
E como são ridículas !....
Ridículas porque nos mostram Íbis frágil
do distante Egipto que chora perto.
De repente surge a Pessoa
O Nininho carente, sozinho e sem máscaras.
Onde as puseste?
Ah! Fechaste-as à chave no armário da intelectualidade.
Pouca sorte. O maroto do Álvaro de Campos fugiu pelo buraco da fechadura.
Devias ter-lhe dado umas palmadas.
Sim, porque isso não se faz!
Onde vais? À Boca do Inferno ?
Mas ela continua impossivelmente na mesma: direita.
Não vás para o manicómio! Não quero que vás!
Olha a Ofélia. Anda vá, dá-lhe um chocolate.
Tu sabes que ela gosta.
Passeia, engraxa os sapatos e faz comentários ao teu talassismo.
Que falte a luz e beijos apaixonados, muitos
Rompam do teu chapéu preto como passos de mágica
Transformando a intelectualidade num coelho
que se esqueceu no fundo da cartola.
Por que rejeitas o amor que não quiseste ?
Esqueceste aquele vão de escada ?
Já não vês a janela do sonho ?
E a Mensagem vazia, por que lha enviaste?
Por que queres ser sozinho?
Toda a vida a Ofélia esperou.
Tu ultrapassaste finalmente a barreira do real .
A sua espera já não tem sentido.
E dessa história ficou uma janela vazia
Já sem sonhos.
gostei muito desta interpelação poética ao "nosso" Pessoa.
ResponderEliminarabraço.
Obrigada MM.
ResponderEliminarEspero vê-la em breve ao vivo e a cores.
Um beijo
Ana Mabrouk