Direito à memória
É preciso não esquecer
O direito à indignação
Não calar a revolta
As injustiças que nos impõem
Protestar contra o marasmo
E a corrupção instituída
Os ladrões de colarinho branco
E a miséria que mora ao lado
Mas também dentro de nós
É preciso dar voz a quem
nada tem
E rasgar protocolos de
silêncio
Conveniências de que
desmanda
E nada sabe dos que já
não sonham
Desistindo da esperança e
da aurora
Temos que reaprender a
resistir
A desconstruir dogmas
erróneos
E verdades impostas que à
força de repetidas
Se tornam aceites,
inquestionáveis e brancas
Sujas da venda de trinta
dinheiros
É preciso contestar,
protestar, desafiar
Hologramas que afirmam
que nada podemos mudar
E desmontar cenários
criados em gabinetes fechados
Por homens cinzentos de
gravatas azuis
Saber que não perdemos a
capacidade de acreditar
Que o futuro pode ser o
que muitos
Braços e mentes quiserem
criar
Que os tempos vindouros
não têm que ser
Quadros sem cor nem vida
de marionetas
Manipuladas por fantoches
berrantes
É preciso manter viva a
chama
Do prazer, da energia, da
alegria
De estarmos aqui, de
termos aqui chegado
Pelos nossos próprios pés,
andarilhos de uma história
Feita muitas vezes com
suor e lágrimas
Mas com vontade de vencer
e lutar
E agarrar o destino com
duas mãos cheias
Uma de trabalho e ambição
Outra de vontade e
imaginação
Não temos que viver
amordaçados
Amarrados a dívidas e
obrigações
Corpos amorfos numa
rotina inodora
Prisão feita de regras e
ilusões
Mentiras forjadas por
quem não sente
O desespero de não ter
pão para a boca
E dignidade nos olhos
descobertos
Por quem enfrenta o
dia-a-dia
De cabeça erguida e tenta
sorrir
Viver, procurar futuros e
sonhar
É preciso ser ambicioso:
Não nos esquecermos de
nós.
É preciso ter memória!
Ana Paula Mabrouk
1 Junho 2012
(texto escrito para o 19º
Encontro Poético Luso-Espanhol em Aveiro)
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