terça-feira, 26 de junho de 2012

É preciso manter viva a memória


Direito à memória



É preciso não esquecer

O direito à indignação

Não calar a revolta

As injustiças que nos impõem

Protestar contra o marasmo

E a corrupção instituída

Os ladrões de colarinho branco

E a miséria que mora ao lado

Mas também dentro de nós



É preciso dar voz a quem nada tem

E rasgar protocolos de silêncio

Conveniências de que desmanda

E nada sabe dos que já não sonham

Desistindo da esperança e da aurora

Temos que reaprender a resistir

A desconstruir dogmas erróneos

E verdades impostas que à força de repetidas

Se tornam aceites, inquestionáveis e brancas

Sujas da venda de trinta dinheiros



É preciso contestar, protestar, desafiar

Hologramas que afirmam que nada podemos mudar

E desmontar cenários criados em gabinetes fechados

Por homens cinzentos de gravatas azuis

Saber que não perdemos a capacidade de acreditar

Que o futuro pode ser o que muitos

Braços e mentes quiserem criar

Que os tempos vindouros não têm que ser

Quadros sem cor nem vida de marionetas

Manipuladas por fantoches berrantes



É preciso manter viva a chama

Do prazer, da energia, da alegria

De estarmos aqui, de termos aqui chegado

Pelos nossos próprios pés, andarilhos de uma história

Feita muitas vezes com suor e lágrimas

Mas com vontade de vencer e lutar

E agarrar o destino com duas mãos cheias

Uma de trabalho e ambição

Outra de vontade e imaginação



Não temos que viver amordaçados

Amarrados a dívidas e obrigações

Corpos amorfos numa rotina inodora

Prisão feita de regras e ilusões

Mentiras forjadas por quem não sente

O desespero de não ter pão para a boca

E dignidade nos olhos descobertos

Por quem enfrenta o dia-a-dia

De cabeça erguida e tenta sorrir

Viver, procurar futuros e sonhar



É preciso ser ambicioso:

Não nos esquecermos de nós.

É  preciso ter memória!



Ana Paula Mabrouk

1 Junho 2012

(texto escrito para o 19º Encontro Poético Luso-Espanhol em Aveiro)


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