Coquette
Olho-me no espelho
E vejo a diva de outrora.
Os lábios eram de carmim
Carnudos e ávidos de provocações.
Os olhos chispavam de riso
E labaredavam segredos inconfessáveis.
As maças de rosto empoeiradas e rosadas
Ofereciam-se para ser trincadas a gosto.
A testa alta ostentava cabelos rebeldes
Que deslizavam na pele aveludada.
O nariz empinado de quem tudo comanda
Perfilava-se atrevido, desafiando em redor.
O colo desnudo espreitava do decote ousado
E convidava a mil devaneios.
Os anos passaram mas a chama ainda se aviva
Quando entras sem avisar
E me surpreendes pelas costas
Com um beijo húmido
E um abraço apertado.
Estremece o corpo pequeno
Ateio o desejo adormecido
E agarro a gravata descaída
Com dedos de gazela treinada
Atraindo-te para o meu covil
Fêmea com cio atiçado
Macho para a cópula preparado.
20-11-2010
Este blogue pretende dar a conhecer a actividade literária da escritora Ana Paula Mabrouk e conversar sobre literatura
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
O Piolho Zarolho de Lurdes Breda
“Canção do Piolho”, baseada no livro “O Piolho Zarolho e o Arco-Íris da Amizade”, uma obra escrita a pensar nas crianças com Necessidade Educativas Especiais (NEE), da autoria de Lurdes Breda. Este livro bilingue utiliza o sistema de Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA), Símbolos para a Literacia da Widgit, copyright, em Portugal, de Cnotinfor, Lda.
Letra: Lurdes Breda;
Música: Lina Carregã, da Unidade Funcional de Montemo-o-Velho, da APPACDM de Coimbra;
Arranjo instrumental: Nuno Mouronho, da Unidade Funcional de Arganil, da APPACDM de Coimbra;
Ilustrações: Carla Figueiredo, do livro "O Piolho Zarolho e o Arco-íris da Amizade", Editora Temas Originais;
Montagem: Manuela Andrade, Cnotinfor – Imagina, Coimbra.
Letra: Lurdes Breda;
Música: Lina Carregã, da Unidade Funcional de Montemo-o-Velho, da APPACDM de Coimbra;
Arranjo instrumental: Nuno Mouronho, da Unidade Funcional de Arganil, da APPACDM de Coimbra;
Ilustrações: Carla Figueiredo, do livro "O Piolho Zarolho e o Arco-íris da Amizade", Editora Temas Originais;
Montagem: Manuela Andrade, Cnotinfor – Imagina, Coimbra.
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O Piolho Zarolho; Lurdes Breda
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Conheçam Asun Estévez Estévez
Asun Estevez nasceu em Bueu, Pontevedra, a 18 de Novembro de 1966. É membro da Associação de Escritores e Artistas Espanhóis e secretária da ADICAM (Associação de Diagnosticadas de Cancro da Mama). Em 2008, publicou, através da Ir Indo Edicións, o seu livro de poesia “Pel de muller”, o qual está a ter um enorme êxito na Galiza, encontrando-se em segunda edição. Participou em colóquios, recitais poéticos e também escreve artigos para revistas culturais. Recebeu o 3º premio do “11º Certame de Cartas de Amor”, comemorado pela Concellería de Xuventude do Concello de Cangas. Em 2009, esteve presente no “1º Encontro Internacional de Poesia”, em Aveiro. Ainda no mesmo ano paticipou na “Noite de Poesia e Fados”, evento integrado na 8ª Feira de Doçaria Conventual de Tentúgal. Foi a primeira mulher a fazer o Pregón da Festa Do Viño Tinta Femia de Cela (Bueu). Apresenta e coordena um programa semanal de radio “Cita coa vida”, onde são tratados temas da cultura e do quotidiano. Recentemente publicou os livros "Bicos de sol" (conto) e "Noites, Amanceres ... E algo máis" (poesia).
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Asun Estevez
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Prefácio do Livro Ancorar o Amor
Caros amigos,
deixo-vos aqui o prefácio do livro "Ancorar o Amor" de Joaquim Santos, escrito em Janeiro deste ano. Para ele que foi pai no último fim-de-semana, votos de feliciades para toda a família.
Ancorar o Amor
Prefácio
Ancorar o amor é um livro que, acima de tudo, nos transmite uma mundivisão na qual o amor é o centro do universo, que tudo move e tudo comanda. É este sentimento invisível, impalpável e quase indefiníve o leit motiv deste livro. Digo quase indefinível, pois o autor inicia a sua demanda, precisamente, com a tentativa de definição do conceito Amor. Parte de uma personificação – ilha paradisíaca –, caracterizando o amor como difícil de alcançar, valioso mas pouco valorizado, sentido último de vida a dois.
A proposição, no sentido filosófico do termo, «Nascemos para amar e sermos amados», subjaz às três partes constituintes deste texto literário.
Podemos considerar a primeira parte como uma reflexão sobre o conceito Amor. De acordo com o autor, é este sentimento que completa o ser humano, o faz feliz, dá sentido a tudo o que somos e fazemos. O seu carácter abrangente e unificador é-nos transmitido através de uma belíssima imagem: «Ele reside na madrugada dos dias, percorrendo todo o tempo até ao anoitecer».
O fio condutor desta reflexão centra-se, em seguida, nas diferentes formas, intensidades, causas e objectos do amor, com as quais se estabelecem vínculos, encontros e laços essenciais. Exemplifica-se o exposto com o caso histórico do amor de Pedro e Inês, amor que sobreviveu, inclusive, à própria morte. O amor não é entendido como um sentimento isolado, de per si, mas como um ingrediente essencial a outros sentimentos e conceitos, nos quais se incluem a amizade, a paz, a autenticidade, a verdade e o sonho. A morte não é impeditiva da continuidade do amor, pois este estado, aparentemente condicionante, coloca o ser humano perante a razão da existência de cada um. É a morte que tudo coloca em perspectiva. Deus é a Entidade Criadora e os seres humanos são seres limitados no tempo mas não na dádiva incomensurável que consubstancia o sentimento do amor.
Numa segunda sequência deste texto narrativo, o autor envereda pela exploração temática de alguns tópicos que lhe permitem reforçar a convicção de que o amor não é apenas uma teoria «mas antes uma experiência maravilhosa que vivemos». Podemos identificar cinco tópicos de dissertação: Verbo amar desde os primeiros tempos, Amor de areia ou de pedra, Amor à terra, Amor invisível e Sonhar não traz limites ao amor.
No primeiro tópico, o autor elabora uma breve resenha histórica sobre o uso da palavra Amor através dos tempos. Identifica-o como sendo o verbo mais usado gramaticalmente nos textos dos apaixonados, em todos os tempos, conjugações e formas. A noção de Amor é extensível a todas as espécies e contem em si mesmo um leque tão variado de sinergias, que vai desde a atracção primitiva da paixão, em estado animal, até «ao pregão aos bons momentos» e à «esperança da humanidade».
No segundo tópico, encontramo-nos perante um autor menos cerebral e mais arrebatado, escrevendo pela madrugada fora, longe das exigências práticas da labuta diária e diurna. É a coberto da noite que a criação artística irrompe e se comparam castelos de amor de areia ou de pedra. A pedra, dura mater, personifica o processo de construção que abriga, protege e proporciona espaço ao sentimento do amor. É um sentimento em constante progresso que necessita de bases firmes mas também de janelas abertas ao mundo, através das quais possa irromper a luz. Quase podemos adivinhar o eco bíblico.
No terceiro tópico, o autor reflecte sobre o caso dos Índios da Amazónia, aos quais não só roubaram as terras, mas impedem a sua ligação à terra-chão, raiz de todos os seus valores mais preciosos. Ao perder a sua referência de base, estas tribos morrem por dentro, condenadas a sobreviver sem identidade, sem verdade, sem autenticidade. São mortos-vivos, aos quais foi arrancado o seu amor mais precioso: aquele que lhes confere a essência de quem verdadeiramente são.
No quarto tópico, o autor disserta sobre o Amor a um Deus invisível, exercício do espírito e pedra angular de uma vida construída sobre valores sólidos como a ética, a educação e o convívio. Repudia-se os extremismos religiosos e fanáticos e alerta-se para a necessidade de formar e informar os praticantes. A religião, qualquer que seja, deve tornar cada fiel uma «bússola do bem comum». Só tendo por base e, acima de tudo, bem alojado no coração, o Amor a um Deus benigno e misericordioso se pode contribuir para a «construção directa de um mundo para todos, sem excepção».
No quinto tópico, parte-se de uma máxima comummente aceite: «A vida real traz-nos limitações, dissabores e injustiças». Se por um lado é verdade que não se nasce com idênticas condições ou oportunidades de vida, por outro o ser humano pode sempre lançar mão ao sonho. Ele liberta-nos de realidade opressora e torna-nos igualitários, sem excepção. O sonho confere-nos a sensação de descanso de alma, de libertação das nossas limitações, tendo, por conseguinte, um efeito terapêutico. O sonho é intemporal e atemporal: uma viagem que nos pode transportar ao Amor, pela mão de um visionário. «Ao sonhar, qualquer um consegue estar na linha da justiça, da igualdade, da paz, do amor».
Terminados que estão as dissertações filosóficas sobre o conceito Amor, parece que o autor perde a (e se perde na) estrutura narrativa. De repente, encontramo-nos perante um conto literário, algo ingénuo e idílico, de um amor a dois que não parece talhado para este mundo.
No entanto, por detrás desta aparente falta de unidade, no que respeita à estrutura narrativa, subjaz um tema unificador – o Amor. E não é apenas o conceito temático, mas também a concretização das ideias explanadas no último tópico: o narrador encarna o papel do visionário que, ao sonhar no papel uma história de amor, se liberta e dá asas à vontade de concretizar as suas teorias. É o efeito terapêutico do sonho em todo o seu esplendor.
No conto – Uma história num sonho – o narrador situa a diegese num local geográfico que conhece bem – os Pousos. Cumpre assim uma das regras advogadas por Rilke: começar por escrever pelo que está próximo. Deste modo, a escrita soa a verdade e não a esforço puramente académico.
Como personagem principal temos Mateus – jovem órfão e cujo crescimento e maturidade foram acelerados pela necessidade de cuidar de duas irmãs mais novas. Ao tentar, exemplarmente, cumprir os sonhos que os seus pais haviam sonhado para os filhos, esquecera-se de sonhar e de amar, para além do seu papel de prestador de cuidados e de sustento familiar. A sua demanda interior era a do encontro de um grande Amor, pois segundo ele «Um homem é incompleto sem uma mulher, sem um amor na sua vida».
É numa festa popular que encontra Laura, rapariga de poucas falas, discreta e diferente das outras. Ele sente desde logo uma empatia com ela e acredita que por detrás deste encontro reside uma intervenção divina. Acredita também que nada acontece por acaso.
No terminus da história encontramos um fim redondo, num duplo sentido: redondo porque completo e redondo porque retoma a ideia inicial de que o amor é de facto uma ilha que poucos conseguem alcançar. Autor e narrador convergem na noção de que o Amor a dois quase parece uma miragem. No entanto, existem sempre alguns náufragos, seres afortunados, que conseguem atingir a costa e iniciar uma nova vida numa ilha de difícil localização.
Este livro termina com uma espécie de epílogo chamado «Inspiração Sagrada». A frase «Nós somos o resultado do amor de Deus, o criador profundo e perfeito de todas as coisas na Terra» impõe sobre todos os seres humanos a obrigação de retribuir esse Amor Divino, disseminando-o em todas as acções da nossa vida. Deus conferiu-nos a capacidade de amar, seja o outro, o chão que pisamos ou um sonho de criação artística. Quem não ama, não é um ser completo de verdade.
Joaquim Santos cumpriu nesta obra uma das vertentes desse amor. Cabe-nos a nós, como leitores atentos, corresponder também à dádiva de Deus: abrir o coração para entendermos esta lição de amor.
Coimbra, 7 de Janeiro de 2010
Ana Paula Mabrouk
deixo-vos aqui o prefácio do livro "Ancorar o Amor" de Joaquim Santos, escrito em Janeiro deste ano. Para ele que foi pai no último fim-de-semana, votos de feliciades para toda a família.
Ancorar o Amor
Prefácio
Ancorar o amor é um livro que, acima de tudo, nos transmite uma mundivisão na qual o amor é o centro do universo, que tudo move e tudo comanda. É este sentimento invisível, impalpável e quase indefiníve o leit motiv deste livro. Digo quase indefinível, pois o autor inicia a sua demanda, precisamente, com a tentativa de definição do conceito Amor. Parte de uma personificação – ilha paradisíaca –, caracterizando o amor como difícil de alcançar, valioso mas pouco valorizado, sentido último de vida a dois.
A proposição, no sentido filosófico do termo, «Nascemos para amar e sermos amados», subjaz às três partes constituintes deste texto literário.
Podemos considerar a primeira parte como uma reflexão sobre o conceito Amor. De acordo com o autor, é este sentimento que completa o ser humano, o faz feliz, dá sentido a tudo o que somos e fazemos. O seu carácter abrangente e unificador é-nos transmitido através de uma belíssima imagem: «Ele reside na madrugada dos dias, percorrendo todo o tempo até ao anoitecer».
O fio condutor desta reflexão centra-se, em seguida, nas diferentes formas, intensidades, causas e objectos do amor, com as quais se estabelecem vínculos, encontros e laços essenciais. Exemplifica-se o exposto com o caso histórico do amor de Pedro e Inês, amor que sobreviveu, inclusive, à própria morte. O amor não é entendido como um sentimento isolado, de per si, mas como um ingrediente essencial a outros sentimentos e conceitos, nos quais se incluem a amizade, a paz, a autenticidade, a verdade e o sonho. A morte não é impeditiva da continuidade do amor, pois este estado, aparentemente condicionante, coloca o ser humano perante a razão da existência de cada um. É a morte que tudo coloca em perspectiva. Deus é a Entidade Criadora e os seres humanos são seres limitados no tempo mas não na dádiva incomensurável que consubstancia o sentimento do amor.
Numa segunda sequência deste texto narrativo, o autor envereda pela exploração temática de alguns tópicos que lhe permitem reforçar a convicção de que o amor não é apenas uma teoria «mas antes uma experiência maravilhosa que vivemos». Podemos identificar cinco tópicos de dissertação: Verbo amar desde os primeiros tempos, Amor de areia ou de pedra, Amor à terra, Amor invisível e Sonhar não traz limites ao amor.
No primeiro tópico, o autor elabora uma breve resenha histórica sobre o uso da palavra Amor através dos tempos. Identifica-o como sendo o verbo mais usado gramaticalmente nos textos dos apaixonados, em todos os tempos, conjugações e formas. A noção de Amor é extensível a todas as espécies e contem em si mesmo um leque tão variado de sinergias, que vai desde a atracção primitiva da paixão, em estado animal, até «ao pregão aos bons momentos» e à «esperança da humanidade».
No segundo tópico, encontramo-nos perante um autor menos cerebral e mais arrebatado, escrevendo pela madrugada fora, longe das exigências práticas da labuta diária e diurna. É a coberto da noite que a criação artística irrompe e se comparam castelos de amor de areia ou de pedra. A pedra, dura mater, personifica o processo de construção que abriga, protege e proporciona espaço ao sentimento do amor. É um sentimento em constante progresso que necessita de bases firmes mas também de janelas abertas ao mundo, através das quais possa irromper a luz. Quase podemos adivinhar o eco bíblico.
No terceiro tópico, o autor reflecte sobre o caso dos Índios da Amazónia, aos quais não só roubaram as terras, mas impedem a sua ligação à terra-chão, raiz de todos os seus valores mais preciosos. Ao perder a sua referência de base, estas tribos morrem por dentro, condenadas a sobreviver sem identidade, sem verdade, sem autenticidade. São mortos-vivos, aos quais foi arrancado o seu amor mais precioso: aquele que lhes confere a essência de quem verdadeiramente são.
No quarto tópico, o autor disserta sobre o Amor a um Deus invisível, exercício do espírito e pedra angular de uma vida construída sobre valores sólidos como a ética, a educação e o convívio. Repudia-se os extremismos religiosos e fanáticos e alerta-se para a necessidade de formar e informar os praticantes. A religião, qualquer que seja, deve tornar cada fiel uma «bússola do bem comum». Só tendo por base e, acima de tudo, bem alojado no coração, o Amor a um Deus benigno e misericordioso se pode contribuir para a «construção directa de um mundo para todos, sem excepção».
No quinto tópico, parte-se de uma máxima comummente aceite: «A vida real traz-nos limitações, dissabores e injustiças». Se por um lado é verdade que não se nasce com idênticas condições ou oportunidades de vida, por outro o ser humano pode sempre lançar mão ao sonho. Ele liberta-nos de realidade opressora e torna-nos igualitários, sem excepção. O sonho confere-nos a sensação de descanso de alma, de libertação das nossas limitações, tendo, por conseguinte, um efeito terapêutico. O sonho é intemporal e atemporal: uma viagem que nos pode transportar ao Amor, pela mão de um visionário. «Ao sonhar, qualquer um consegue estar na linha da justiça, da igualdade, da paz, do amor».
Terminados que estão as dissertações filosóficas sobre o conceito Amor, parece que o autor perde a (e se perde na) estrutura narrativa. De repente, encontramo-nos perante um conto literário, algo ingénuo e idílico, de um amor a dois que não parece talhado para este mundo.
No entanto, por detrás desta aparente falta de unidade, no que respeita à estrutura narrativa, subjaz um tema unificador – o Amor. E não é apenas o conceito temático, mas também a concretização das ideias explanadas no último tópico: o narrador encarna o papel do visionário que, ao sonhar no papel uma história de amor, se liberta e dá asas à vontade de concretizar as suas teorias. É o efeito terapêutico do sonho em todo o seu esplendor.
No conto – Uma história num sonho – o narrador situa a diegese num local geográfico que conhece bem – os Pousos. Cumpre assim uma das regras advogadas por Rilke: começar por escrever pelo que está próximo. Deste modo, a escrita soa a verdade e não a esforço puramente académico.
Como personagem principal temos Mateus – jovem órfão e cujo crescimento e maturidade foram acelerados pela necessidade de cuidar de duas irmãs mais novas. Ao tentar, exemplarmente, cumprir os sonhos que os seus pais haviam sonhado para os filhos, esquecera-se de sonhar e de amar, para além do seu papel de prestador de cuidados e de sustento familiar. A sua demanda interior era a do encontro de um grande Amor, pois segundo ele «Um homem é incompleto sem uma mulher, sem um amor na sua vida».
É numa festa popular que encontra Laura, rapariga de poucas falas, discreta e diferente das outras. Ele sente desde logo uma empatia com ela e acredita que por detrás deste encontro reside uma intervenção divina. Acredita também que nada acontece por acaso.
No terminus da história encontramos um fim redondo, num duplo sentido: redondo porque completo e redondo porque retoma a ideia inicial de que o amor é de facto uma ilha que poucos conseguem alcançar. Autor e narrador convergem na noção de que o Amor a dois quase parece uma miragem. No entanto, existem sempre alguns náufragos, seres afortunados, que conseguem atingir a costa e iniciar uma nova vida numa ilha de difícil localização.
Este livro termina com uma espécie de epílogo chamado «Inspiração Sagrada». A frase «Nós somos o resultado do amor de Deus, o criador profundo e perfeito de todas as coisas na Terra» impõe sobre todos os seres humanos a obrigação de retribuir esse Amor Divino, disseminando-o em todas as acções da nossa vida. Deus conferiu-nos a capacidade de amar, seja o outro, o chão que pisamos ou um sonho de criação artística. Quem não ama, não é um ser completo de verdade.
Joaquim Santos cumpriu nesta obra uma das vertentes desse amor. Cabe-nos a nós, como leitores atentos, corresponder também à dádiva de Deus: abrir o coração para entendermos esta lição de amor.
Coimbra, 7 de Janeiro de 2010
Ana Paula Mabrouk
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Joaquim Santos; Amor
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
A língua é um elo de união
Soneto
Tema - Um dos versos do poema Língua Maternal
A língua é um elo de união
Nos quatros continentes espraiada
Nos versos do poeta-mor cantada
História viva de uma nação.
Leva saudade de pai para irmão
Da família, amigos contada
Choro ou alegria desfiada
Parte ou sara logo um coração.
Instrumento, partilha fraternal
Cidadã do mundo, sem passaporte
Derruba barreiras, sem ter igual.
Falo português e tenho mui sorte
Língua-mundi, num mapa global
A bússola que nunca perde o norte.
Ana Paula Mabrouk
10 de Agosto 2010
Poema concorrente ao
XIII Concurso Literário Algarve/Brasil 2010
Tema - Um dos versos do poema Língua Maternal
A língua é um elo de união
Nos quatros continentes espraiada
Nos versos do poeta-mor cantada
História viva de uma nação.
Leva saudade de pai para irmão
Da família, amigos contada
Choro ou alegria desfiada
Parte ou sara logo um coração.
Instrumento, partilha fraternal
Cidadã do mundo, sem passaporte
Derruba barreiras, sem ter igual.
Falo português e tenho mui sorte
Língua-mundi, num mapa global
A bússola que nunca perde o norte.
Ana Paula Mabrouk
10 de Agosto 2010
Poema concorrente ao
XIII Concurso Literário Algarve/Brasil 2010
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língua portuguesa,
Poesia 2010
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Apresentação do Livro "Ancorar o Amor" de Joaquim Santos
Ancorar o Amor
Joaquim Santos
Apresentação - Instituto Politécnico de Leiria
29 de Outubro 2010
Este livro de Joaquim Santos é como uma viagem, quase uma demanda, num mundo cada vez mais materialista e individualista.
Quando penso neste livro em termos alegóricos, vejo um navio sulcando mares conturbados em busca de uma ilha paradisíaca, difícil de alcançar, mas que todos sabem estar situada no centro do universo. Nessa ilha habita um sentimento paradoxal e quase indefinível – o Amor.
O conceito gera, normalmente, debates conflituosos, posições antagónicas e, quiçá, sorrisos trocistas. É a razão dos séculos pós-iluministas sobre o romantismo das aventuras medievais. O racionalismo encarniçado contra o sentimento quase envergonhado.
No entanto, não estamos perante o conceito romanesco do termo, nem o autor se revê num cavaleiro andante, de armadura luzidia e espada em riste. Quando muito, vislumbro no papel de timoneiro um capitão de pele curtida e olhar perscrutante.
A ilha que procura é revestida de vegetação abrangente, rodeada de muitas baías e ancoradouros nos quais se recolhem, das tempestades exteriores, a Amizade, a Paz, a Autenticidade, a Verdade e o Sonho. Nem a Morte que atira para as areias, constantemente batidas pelas vagas alterosas, os despojos do mar – leia-se Vida – consegue impedir a continuidade do Amor, pois é ela que tudo coloca em perspectiva. É a escolha que cada naufrago faz dos escolhos trazidos pela maré baixa que irá condicionar toda a sua (sobre)vivência.
A viagem inicia-se por entre a bruma que envolve toda a qualquer demanda espiritual. Os contornos da ilha são obscuros e os picos das suas montanhas pouco perceptíveis à distância. O navio avança lentamente e ao leme o capitão firma as mãos.
O primeiro pico a ser avistado é o da montanha do Amor através dos tempos – um misto de paixão carnal e razões do espírito. É uma montanha envolta em lianas de sentidos e clareiras azuis de esperança.
No outro extremo da ilha, descobrimos um ancoradouro de uma praia de areia e pedra. Nas suas margens, ruínas de pedra de abrigos inacabados com tectos de relento e janelas abertas ao mundo.
Passado o recorte de um promontório, avistamos o pico da montanha do Amor à terra, na qual se ouvem os sussurros dos indígenas na brisa que sopra por entre as copas das árvores ancestrais. Nas conchas do mar, podem-se escutar lendas de tragédias e de naufrágios que despovoaram terras e mares e deixaram um povo à deriva.
O navio evita cuidadosamente os recifes de corais aguçados e prossegue viagem.
Em breve, se avista o pico mais alto: o da montanha do Amor a um Deus invisível mas benigno e misericordioso. É um pico grandioso feito para ser avistado bem ao longe, no coração de cada navegante. É uma “bússola do bem comum” que nos orienta nas tormentas.
Mesmo ao lado, temos o pico da montanha do Sonho, envolto em mistério e neblina. As suas baías são balsâmicas, providenciando descanso para as agruras da viagem e para as mãos calejadas do capitão do navio.
Eis que aqui chegado, o capitão-visionário lança âncora ao mar e prepara-se para explorar o interior da ilha.
Após o retempero do corpo, segue-se a (a)ventura de se entranhar na densa floresta em busca do seu cerne, da sua clareira centralizadora.
O comandante contista narra, em diário de bordo, as aventuras e desventuras inerentes ao desbravar selvas de palavras e encontrar um amor de carne e osso, com o qual compartilhar o resto dos seus dias. Após uma vida de naufrágios, dois seres afortunados, conseguem finalmente iniciar uma vida numa ilha paradisíaca, difícil de alcançar, mas que todos sabem estar situada no centro do universo.
A viagem, o navio e a ilha só valem a pena se o capitão souber retribuir, na medida certa, toda a aprendizagem na sua circum-navegação, desde o nascer até ao pôr-do-sol.
Gostaria determinar com a frase que considero a mais bela metáfora desta obra:
“Ele [o Amor] reside na madrugada dos dias, percorrendo todo o tempo até ao anoitecer.”
Ana Paula Mabrouk
27 de Outubro 2010
Joaquim Santos
Apresentação - Instituto Politécnico de Leiria
29 de Outubro 2010
Este livro de Joaquim Santos é como uma viagem, quase uma demanda, num mundo cada vez mais materialista e individualista.
Quando penso neste livro em termos alegóricos, vejo um navio sulcando mares conturbados em busca de uma ilha paradisíaca, difícil de alcançar, mas que todos sabem estar situada no centro do universo. Nessa ilha habita um sentimento paradoxal e quase indefinível – o Amor.
O conceito gera, normalmente, debates conflituosos, posições antagónicas e, quiçá, sorrisos trocistas. É a razão dos séculos pós-iluministas sobre o romantismo das aventuras medievais. O racionalismo encarniçado contra o sentimento quase envergonhado.
No entanto, não estamos perante o conceito romanesco do termo, nem o autor se revê num cavaleiro andante, de armadura luzidia e espada em riste. Quando muito, vislumbro no papel de timoneiro um capitão de pele curtida e olhar perscrutante.
A ilha que procura é revestida de vegetação abrangente, rodeada de muitas baías e ancoradouros nos quais se recolhem, das tempestades exteriores, a Amizade, a Paz, a Autenticidade, a Verdade e o Sonho. Nem a Morte que atira para as areias, constantemente batidas pelas vagas alterosas, os despojos do mar – leia-se Vida – consegue impedir a continuidade do Amor, pois é ela que tudo coloca em perspectiva. É a escolha que cada naufrago faz dos escolhos trazidos pela maré baixa que irá condicionar toda a sua (sobre)vivência.
A viagem inicia-se por entre a bruma que envolve toda a qualquer demanda espiritual. Os contornos da ilha são obscuros e os picos das suas montanhas pouco perceptíveis à distância. O navio avança lentamente e ao leme o capitão firma as mãos.
O primeiro pico a ser avistado é o da montanha do Amor através dos tempos – um misto de paixão carnal e razões do espírito. É uma montanha envolta em lianas de sentidos e clareiras azuis de esperança.
No outro extremo da ilha, descobrimos um ancoradouro de uma praia de areia e pedra. Nas suas margens, ruínas de pedra de abrigos inacabados com tectos de relento e janelas abertas ao mundo.
Passado o recorte de um promontório, avistamos o pico da montanha do Amor à terra, na qual se ouvem os sussurros dos indígenas na brisa que sopra por entre as copas das árvores ancestrais. Nas conchas do mar, podem-se escutar lendas de tragédias e de naufrágios que despovoaram terras e mares e deixaram um povo à deriva.
O navio evita cuidadosamente os recifes de corais aguçados e prossegue viagem.
Em breve, se avista o pico mais alto: o da montanha do Amor a um Deus invisível mas benigno e misericordioso. É um pico grandioso feito para ser avistado bem ao longe, no coração de cada navegante. É uma “bússola do bem comum” que nos orienta nas tormentas.
Mesmo ao lado, temos o pico da montanha do Sonho, envolto em mistério e neblina. As suas baías são balsâmicas, providenciando descanso para as agruras da viagem e para as mãos calejadas do capitão do navio.
Eis que aqui chegado, o capitão-visionário lança âncora ao mar e prepara-se para explorar o interior da ilha.
Após o retempero do corpo, segue-se a (a)ventura de se entranhar na densa floresta em busca do seu cerne, da sua clareira centralizadora.
O comandante contista narra, em diário de bordo, as aventuras e desventuras inerentes ao desbravar selvas de palavras e encontrar um amor de carne e osso, com o qual compartilhar o resto dos seus dias. Após uma vida de naufrágios, dois seres afortunados, conseguem finalmente iniciar uma vida numa ilha paradisíaca, difícil de alcançar, mas que todos sabem estar situada no centro do universo.
A viagem, o navio e a ilha só valem a pena se o capitão souber retribuir, na medida certa, toda a aprendizagem na sua circum-navegação, desde o nascer até ao pôr-do-sol.
Gostaria determinar com a frase que considero a mais bela metáfora desta obra:
“Ele [o Amor] reside na madrugada dos dias, percorrendo todo o tempo até ao anoitecer.”
Ana Paula Mabrouk
27 de Outubro 2010
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