O primeiro poema é uma história já antiga mas que continua atual.
O segundo é uma versão moderna das Bem Aventuranças.
Feliz Natal para todos.
HISTÓRIA ANTIGA
Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga
Antologia Poética
Coimbra, Ed. do Autor, 1981
O meu sermão da montanha
Felizes dos que não precisam usar máscaras no Natal!...
Por que deles será o 'peru' mais grandioso!
Felizes dos que acreditam em Papai Noel,
mesmo sabendo que ele não existe!
Por que estes jamais terão seus sacos cheios!
Felizes dos que nada querem
pois estes terão o mundo!
Felizes dos que não desejam o céu
nem o inferno...
Por que deles será o Paraíso!
Felizes dos que cantam... sem saber cantar...
por que estes serão os verdadeiros poetas!...
Trecho do Poema, O Meu Sermão da Montanha
do Livro O Toque do Espírito do Fogo no Barro
William Garibaldi Oliveira.
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