segunda-feira, 30 de maio de 2011

Chamamento

Poema escrito sobre a temática do mar

Encontro Luso-Poético de Aveiro

28 e 29 de Maio 2011



Chamamento



Quero ir

E vou ficando



Além-mar

Aquém-dor



Tenho olhos de nuvens

E algas de (a)braços

Gaivotas em terra

Num mar de sargaços



Quero ir

E vou ficando



Apelo de sereia

Âncora de limos



Vogo nas ondas altas

Enterrando os pés a fundo

No areal da saudade

Despojo de outro mundo


Quero ir

E vou ficando



Salpico de onda

Búzio sem mar



Parti na traineira

Que sulcou o mar

Veleiro encalhado

Com velas sem ar



Quero ir

E vou ficando



Até ao fim do mundo

No centro do meu chão



Chamamento da distância

Redes vazias nas mãos

Na Terra Nova, os beijos

Sonhos movediços, vãos



Quero ir

E vou ficando



No horizonte da partida

No cais da minha vida


Solto a vontade liberta

Lanço conchas no areal

No vento lanço meu esto

No rosto há ruas de sal



Quero ir

E vou ficando



Ao oriente do sol

Ao ocidente do ocaso



Ergo uma proa altiva

Das águas da imensidão

Marejo olhos tristes

Na espuma da rebentação



Quero ir

E vou ficando



No alento da viagem

Na solidão da margem



27-05-2011

Ana Paula Mabrouk

3 comentários:

  1. Para quê ficar se se teima tanto em ir? :D

    "Vogo nas ondas altas
    Enterrando os pés a fundo
    No areal da saudade
    Despojo de outro mundo", o sonho voa alto e se o chamamento é para o cumprir para quê querer ir e ir ficando?

    “Quero ir
    E vou ficando

    Até ao fim do mundo
    No centro do meu chão”, pois e o nosso chão é sempre o mais importante, mas também é necessário largarmo-nos dele e adejar alto. Para quê estar apenas assente no plano e não voar profundamente como desejamos e ambicionamos?

    "Quero ir
    E vou ficando
    No alento da viagem
    Na solidão da margem" e se a viagem se faz com alento não vale a pena desistir por inconvenientes como a solidão. Seguir em frente, lutar contra esses agentes desalentadores.

    Se nos chamam, se queremos ir, para quê complicar ou deixarmo-nos ser débeis?

    Este poema é admirável e, se for lograda uma leitura ponderante, é imensamente grandioso.

    Guilherme Monteiro

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  2. Magnânimo o comentário. O poema não é assim tão grandioso mas é sentido.

    Nem sempre é tão fácil assim deixarmos tudo para trás e partir à aventura. Os laços que nos prendem amarram-nos ao real quando no peito nos bate um espírito livre e indomável. Fica a eterna dualidade entre a pessoa e o escritor...
    Beijos
    Ana Paula

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