domingo, 30 de maio de 2010

Hoje contrariámos este poema da minha autoria

Já não há poetas



Já não há poetas.

Já ninguém escreve poesia.

Ninguém mais diz

O que lhe vai na alma

Em versos doridos.

Ninguém verte uma lágrima

Ao escrevê-los.

Nem sequer rabiscos

Nos guardanapos do café

Ou nos papéis amarrotados.

Nem mesmo às escondidas

Nas contracapas dos livros escolares.

Ninguém mais sonha

Com tinta no branco das folhas,

Nas margens dos jornais.



Morreram os sonhadores.

No Outono do fim da vida

Já não se apanham folhas caídas:

São varridas para baixo da garagem real

Do quotidiano e esquecidas.

Folhas mortas da árvore da vida.

Ana Paula Mabrouk

Ainda embuída pelo espírito da poesia

Aqui fica o 1º poema do meu livro "Em carne viva", editado pela
http://www.bubok.pt/

Arca d’Aliança




És a Deusa que em versos sempre canto

O Sonho que em tinta azul verbalizo

A outra Vida que em mim sem descanso

Me corre nas veias e surge sem aviso.



És a Fogueira que arde e depois some

A Labareda que queima docemente

A Chama que na minh’alma consome

Deixando a cinza testemunha quente.



És a Musa que inspira meu devir

Que inflama meu desejo de criança

Na página transmuta o meu sentir



E faz da fraqueza nova confiança

Minha mágoa transforma num sorrir

Poesia, minha arca d’Aliança.

Encontro luso-espanhol de poesia

Decorreu nos dias 29 e 30 de Maio o 17º Encontro Luso-Espanhol de poesia, em Aveiro.
Para todos os presentes e os ausentes aqui fica o meu "recuerdo".
Viva a poesia e os poetas que a mantêm viva!

Ana Paula Mabrouk


sábado, 29 de maio de 2010

Convite - Apareçam!

O Grupo Poético de Aveiro vai realizar um Encontro nos dias 29 e 30 de Maio, tendo como convidados poetas espanhóis representantes de diversas Associações: Grupo Literário e Artístico Sarmiento e Juan de Baños de Valladolid, Círculo Poético Orensano de Ourense, República de las Letras de Pontevedra e Fundacion Cumulum de Lugo.

Esta forma de intercâmbio cultural com os nossos vizinhos espanhóis teve inicio em 1993 e tem vindo a alargar-se, ao longo dos anos, a um número cada vez maior de associações.

Recital poético - dia 29 - Biblioteca Municipal de Aveiro - 18horas

Leitura de poemas - dia 30 - Parque Municipal Infante D. Pedro - 11horas

Convidamos todos os amantes da Poesia a assistir a este Encontro Poético Luso-Espanhol, integrado na Feira do Livro de Aveiro.
Cumprimentos

Grupo Poético de Aveiro

sexta-feira, 28 de maio de 2010

As Palavras - Eugénio de Andrade

As palavras

 
São como um cristal,

as palavras.

Algumas, um punhal,

um incêndio.

Outras,

orvalho apenas.



Secretas vêm, cheias de memória.

Inseguras navegam:

barcos ou beijos,

as águas estremecem.



Desamparadas, inocentes,

leves.

Tecidas são de luz

e são a noite.

E mesmo pálidas

verdes paraísos lembram ainda.



Quem as escuta? Quem

as recolhe, assim,

cruéis, desfeitas,

nas suas conchas puras?


Eugénio de Andrade

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Apreciação literária do livro Alfabeto no feminino no site O Segredo dos Livros

Caros amigos e leitores,
podem ler uma resenha do meu livro Alfabeto no feminino no site O Segredo dos livros. Para isso basta consultar a página 3: é só seguir o link - http://www.segredodoslivros.com/sugestoes-de-leitura/13.html

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Convenção Nacional de Bookcrossing


Teve lugar em Albergaria-a-Velha, no dia 8 de Maio, a II Convenção Nacional de Bookcrossing.

Inscrevi-me e assisti como público, pela primeira vez.
Gostei de conhecer autores como Diane Barroqueiro, Fina D'Armada, Manuel Arouca e Inês Botelho, admirando a sua cultura, a sua pesquisa em termos de preparação da escrita e a sua capacidade de diálogo com uma plateia.

Não gostei da ausência de explicação quanto às mudanças no programa previsto, do último painel de pessoas muito inexperientes e sem capacidade de cativar a audiência, da cerimónia de entrega dos prémios e de alguns "treinadores de bancada". Esta organização ainda tem muito que aprender na organização de convenções nacionais.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O Futuro

VIII Jogos Florais de Avis (2010)


Modalidade – Prosa (3º prémio)

Conto subordinado ao tema «O Futuro»


O Futuro

Encontrava-me na encruzilhada da vida. Era um entroncamento de caminhos errantes, de auto-estradas vorazes, de trilhos sinuosos e de rotas assinaladas. Já as havia percorrido a todas, em tempos e compassos diferentes. Já fora todos e ninguém.

Chegara a um ponto na vida em que seguir em frente exigia escolhas e estava tão cansada de fazer opções. Apetecia-me, pura e simplesmente, parar. Sentar-me na berma do caminho e ver a vida passar diante dos olhos e dos anos. Estava exausta dos dias e doía-me o cumprimento do sentido do dever. Queria paz de espírito e recolhimento de alma.



Descalcei as botas de caminhante e descansei os pés no orvalho das ervas daninhas. Recostei as costas num carvalho centenário e fechei os olhos. Sorvi, sôfrega, a humidade da manhã vestida de cinza. Fiquei ali, muito quieta, quase sem respirar, como a querer anular-me na paisagem. Desistir: dexistir.

Encaracolei-me na minha concha de anonimato e fiquei. Invernei confortavelmente na friura da Primavera que teimava em não cumprir calendários.



O Futuro? Sei lá eu do devir! Tantos planos gorados, tantos sonhos acordados, tantas vidas emaranhadas… Uma encruzilhada; um nó para desatar; um novelo para fiar. E uma ausência de vontade; uma agonia de ânimo; uma paralisia vertebral. Enquanto a vida me permitir, ficarei sentada na berma da estrada: descalça e desnudada.



A mente vagueou, absorta, alheia à realidade que me gelava os pés e a alma. Só o meu centro de gravidade emanava calor. O meu útero irradiava impulsos e aquecia-me o ser. Havia uma promessa por cumprir. Uma semente ansiosa por germinar. Uma pré-vida que insistia em me lembrar que os rios nem sempre correm para o mar. Há maremotos que desafiam leis e produzem mudanças irreversíveis. Paraísos que, subitamente, desaparecem e outros que, por artes de magia, aparecem do nada. Há mistérios que não foram feitos para serem desvendados. Perde-se o oculto: ganha-se a desilusão. Melhor é não procurar razões. Aceitar o encantamento, sem grandes perguntas. Aquela esperança por cumprir, tão poderosa quanto invisível a olho nu, parecia ter vontade própria superior ao meu desalento. Queria viver.



E eu? Como receber em meus braços um ser pulsante quando todo o meu universo me implorava para sobroçar?



Finquei os pés ma terra húmida mas cálida e senti o apoio da árvore centenária, na solidez das suas raízes profundas. Existem forças telúricas, maiores do que a existência das vidas comezinhas, e que movem planetas e fazem girar universos e sistemas solares. «E contudo: ela move-se!» Alheia aos rancores dos Homens e às razões da Humanidade.



Um pontapé fez-me despertar daquele torpor. Havia uma premência em querer romper barreiras de segurança e líquidos amnióticos tépidos. Havia razões para querer abrir os pulmões na friura da vida cá fora. Gritar e abrir os olhos e cortar cordões umbilicais. Mantendo laços intemporais de intimidade e de partilha genética. E com sorte, e alguma sabedoria, de amor e ternura inenarráveis. Sem necessidade de palavras: apenas a cumplicidade de um olhar. O mesmo sentir, o mesmo pulsar e um fio que nem mesmo as Parcas conseguirão um dia cortar. Vim para ficar – parece sussurrar aquele ser miraculoso.



Então, calcei as botas de caminhante e levantei-me do chão. Mirei a encruzilhada e escolhi um caminho em cujo horizonte um raiozinho de sol parecia brilhar, muito tímido, quase a medo. Havia uma esperança para me guiar, um futuro ainda para cumprir. Havia duas novas vidas para viver.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

3º Lugar na categoria conto - VIII Jogos Florais de Avis (2010)

Caros amigos e leitores,

Depois da recente obtenção do 3º lugar no Brasil com a crónica "Testamento", surge agora o 3º lugar nos Jogos Florais de Avis, com o conto "O Futuro".

http://aca.com.sapo.pt/concursosresult.html